I - 1 HISTÓRIA DA FUNDIÇÃO ARTÍSTICA
A historia da fundição artística é, antes
de tudo, a história da fundição de ferro, material
fetiche de um século XIX cuja palavra-chave era o progresso.
Percorrendo o imenso canteiro a céu aberto que era Paris no século
passado, o barão Haussmann pedia: "Ferro, mais ferro!". De ferro
e ferro fundido, Paris não sentirá falta. Estes materiais
participarão da construção de pontes e grandes prédios
públicos, harmonizarão as fachadas dos imóveis com
os balcões e apoios de janela, investirão sobre a paisagem
urbana com milhares de lamparinas, acessos do metrô Guimard, colunas
Morris, grandes chafarizes ou as famosas fontes Wallace, estátuas
e vasos.
Da mesma forma que em Paris, o ferro fundido marcará de modo
indelével e atemporal a arquitetura e o urbanismo das metrópoles
não somente européias mas do mundo inteiro.
O ferro fundido é o mais antigo dos produtos ferrosos moldados
visto que os chineses já o utilizavam no século VI A.C. Disseminado pela Europa desde o século XIV com o surgimento
dos altos-fornos, o material será utilizado para fabricar canhões,
sinos, peças de forno e de chaminé e canalizações
de água. As técnicas de refundição e moldagem
são aperfeiçoadas e novas aplicações são
tentadas.
A primeira realização importante foi a ponte Coalbrookedale,
construída em 1779, na Inglaterra, por Abraham Darby.
A França aguardará até o início do século
XIX para lançar-se em construções tão audaciosas:
a ponte das Artes e o domo da Halle au Blé, em Paris, por exemplo.
A partir de 1830, o ferro fundido torna-se presença constante
na construção. O material faz concorrência ao bronze e substitui
o ferro forjado, a pedra e a madeira. Dessa forma, a utilização
de colunas em ferro fundido nos prédios públicos permite a
construção de espaços internos de elevado pé-direito, muito
espaçosos e claros (a bibliotecas Santa Genoveva e Nacional,
em Paris). Da mesma forma, a estrutura das Halles de Paris, construídas
por Baltard a partir de 1845, recorreu copiosamente ao material.
Em todas
essas construções, o ferro fundido permite dar
aos próprios elementos da estrutura um aspecto decorativo por meio
da qualidade das decorações moldadas, das quais ornamentos
de colunas foram muito utilizados.
Ao mesmo tempo, a aparição e a multiplicação
do mobiliário urbano - primeiro os candelabros e, logo em seguida, os chafarizes, bancos, grades e quiosques - apoiou-se no recurso quase
exclusivo do ferro fundido.
O ferro fundido moldado, com seus ornamentos muito trabalhados, torna-se
um componente maior das paisagens urbanas do século XIX. O modelo
europeu será disseminado pelo mundo inteiro.
As estátuas em ferro fundido, material que permite a reprodução
das peças originais em vários exemplares, ocupam um lugar
cada vez mais destacado. O material dará inspiração ao gênio criativo de
muitos escultores do século passado.
A fundição artística nasceu nos anos 1830. Os primeiros
fundidores artísticos franceses são Jean Pierre Victor André,
em Val d'Osne, Haute Marne, Calla em Paris, Ducel em Pocé, Indre.
Quem foi o primeiro? Aparentemente, o Le Val d'Osne, caso se acredite
no relatório da exposição universal de 1844: "Deve
ser lembrado que o senhor André é o criador da moldagem em
Champagne: acreditou-se durante muito tempo que as nossas fundições,
geralmente convertidas em ferro, não dispunham das qualidades necessárias
para serem usadas em bronze. Assim, confeccionava-se apenas marmitas e
placas. O senhor André foi o primeiro a tentar utilizar o ferro
fundido para outros fins".
Outros grandes fundidores, como Muel em Tusey-Vaucouleurs, Meuse, Durenne
em Sommevoire, Capitain-Gény em Bussy, Fundições de
Saint-Dizier (parceiros exclusivos de Hector Guimard) em Haute-Marne, Denonvilliers
em Sermaize-sur-Saulx, Marne, Thiébaut em Paris e Voruz em Nantes,
produzirão de modo consequente peças ornamentais que
podem ser admiradas até hoje no mundo inteiro.
Na ausência quase total de arquivos, é difícil reencontrar
os primeiros tempos da fundição artística. Contudo, a produção
é bem conhecida através dos catálogos
editados pelos fundidores nos anos 1840: "o sistema de catálogos
surge quando a produção torna-se demasiadamente importante
para ser absorvida pelo mercado regional. Assim, é preciso passar
pelo concessionário que dispõe de catálogos", escreverá
Annette Laumon em "Fleur de fonte" de 1986.
Comportando mais de 700 estampas,
esses álbuns propõem
ao comprador uma extraordinária variedade de produção :
40.000 objetos diferentes recenseados em apenas um dos cinco catálogos
do Val d'Osne encontrados. A fundição ornamental está
registrada sob todas as letras do alfabeto: "A" de apoios de janela, arquivoltas,
anjos adoradores, animais e grupos (15 estampas, comportando cada uma vários
modelos); "B" de balcões, balaústres e balaustradas, bordas
de chafariz, bancos e bustos; "C" de calvário, candelabros (50 estampas),
cristos, cátedras de pregação, cruzes, colunas ornadas,
cães, corbelhas; "E" de estátuas (51 estampas comportando
de 8 a 12 diferentes modelos); "F" de fontes diversas (35 estampas); "T"
de tanques de chafarizes; "V" de vasos e taças (37 estampas), virgens...
Esses catálogos, raramente datados, são verdadeiras obras
de arte, luxuosamente encadernados. Os modelos são exibidos sob
a forma de gravuras reproduzidas fielmente e classificadas por gênero.
O nome dos escultores consta com frequência bem como informações
sobre tamanho, peso e, às vezes, preço.
As primeiras estátuas fundidas foram realizadas a partir de modelos
provenientes da oficina de moldagem do museu do Louvre. Tais obras são
efetivamente cópias de trabalhos antigos: Diane de Gabies, Apolo de
Belvedere, Hígia, Vênus de Milo ou cópias de obras
anteriores ao século XIX, especialmente apreciadas pelo público:
Amor de Canova, Moisés de Michelangelo, Hipomène et Atalante
de Lepautre e Coustou, Amor talhando seu arco na clava de Hércules de Bouchardon,
Mercúrio de Jean de Bologne.
O sucesso destas primeiras realizações atrairá
adeptos entre escultores, que irão propor determinadas criações
à reprodução múltipla. Assim, mais de 200 escultores,
dentre os quais Bartholdi, Carpeaux, Carrier-Belleuse, Diélbot,
Guimard, Jacquemart, Mathurin Moreau, Pradier, Rouillard e Rude, irão criar, em colaboração com os fundidores, modelos para
ferro fundido destinados a serem moldados em série para ornamentarem
não somente praças, chafarizes e jardins públicos
como também o interior das residências de uma burguesia em expansão, ávida
por presentear-se com moradas principescas.
Não faltou coragem para esta iniciativa dos escultores. Com efeito,
uma obra de arte deve ser única ou, pelo menos, rara. Quer sejam
em mármore ou em bronze, os exemplares replicados a partir de um
modelo original eram limitados. Em seguida, o modelo era, muitas vezes,
destruído pelo escultor. Deixar reproduzir suas obras em ferro fundido,
material pouco nobre, numa quantidade indefinida parecia então uma
iniciativa baixamente mercantil e insultuosa para o gênio do escultor.
Esta arte em série, "aliança entre duas marcas de qualidade",
permitia oferecer ao público obras com assinaturas admiráveis
a preços abordáveis. "...o ferro fundido ganha do cobre
por seu preço inferior. O ferro moldado é encontrado
hoje a preços tão baixos que pode substituir com vantagens
a madeira e a pedra" escrevia Guettier em 1847.
Os catálogos assegurando a difusão da produção
das fundições de arte, as exposições universais,
misturas dos povos e das inovações que marcariam o século
XIX, irão assegurar sua difusão internacional.
Sucessoras das exposições nacionais ou internacionais,
as exposições universais serão "utilizadas como emblemas
do progresso, símbolos das transformações em curso
no mundo da produção ou da cidade". Elas constituem, a partir
da segunda metade do século XIX, eventos mundiais cujas repercussões
são múltiplas: políticas, econômicas, tecnológicas
e, por fim, artísticas.
Catherine
Chevillot, curadora do museu de Orsay, escreverá
na Revista da Arte (95-1992/1) que elas "contribuíram para difundir
o gosto pelo belo em todas as classes da sociedade. Pois qualquer progresso
tem como efeito o combate à rotina e à ignorância".
Os fundidores artísticos expõem desde 1851, em Londres,
no famoso Crystal Palace, palácio em ferro e vidro. Não hesitam
em exibir objetos monumentais. Em 1862, Val d'Osne exporá, novamente
em Londres, uma fonte monumental de dez metros de altura, idêntica à
peça instalada na praça Monroe, no Rio.
Uma das primeiras leis econômicas
reza que a produção somente acontece quando
há mercado. No século XIX, o mercado da fundição
artística está no auge. O urbanismo, ciência da moda,
privilegia a arte de viver em metrópoles em crescimento e as fortunas
privadas que vão se formando fazem florescer residências
e jardins particulares. Para ornar suas realizações, os arquitetos,
paisagistas e decoradores optam pela arte em ferro fundido.
Em compensação, pode-se afirmar que o mercado somente
se desenvolve se a produção satisfaz. No século XIX,
a qualidade dos modelos e das reproduções em ferro fundido
era tão elevada que o mercado irá explodir muito além
das fronteiras européias.
Os relatórios das exposições universais tecem regularmente
elogios às fundições artísticas francesas:
Ao final da Exposição Universal de 1862, o relator escrevia:
"se existe uma indústria na qual a França está incontestavelmente
à frente de todos os países, esta é a da fundição
artística... Estimamos que, à frente de todos aqueles que
se dedicam a essa indústria, posiciona-se o senhor Durenne. Melhores
do que a fonte do jardim da Sociedade Real de Horticultura são as
peças brutas em ferro fundido expostas no palácio. Tais peças não são apenas admiráveis pela fineza
de suas costuras, menos espessas do que a lâmina de uma faca, qualidade
preciosa que evita o cinzelamento em razão da nitidez e do polimento
de sua superfície. Em tais peças, a ferramenta nada tem a
fazer".
Enfim, se a fundição artística nasceu do encontro
do escultor com o fundidor e se o "industrial tornou-se artista e o artista
industrial", não devemos esquecer a matéria suporte da arte:
o ferro fundido: material excepcional que, um século e meio após
ter sido moldado, ainda causa admiração por sua qualidade,
resistência e atualidade. Não continua ele sendo o preferido
dos designers para o mobiliário urbano, por exemplo?
Antes de abordar o
assunto principal, isto é, o ataque aos fenômenos da corrosão e as técnicas de restauração
do ferro fundido, proponho travarmos conhecimento com aquela que foi
a maior fundição de arte da Europa, a Val d'Osne. Considerando
que as peças artísticas em ferro fundido no Brasil, como
aquelas reencontradas nas duas Américas - Estados Unidos, Canadá,
Argentina, Chile, México e Venezuela - eram, em sua maioria originárias
de Val d'Osne, julgo necessário apresentar um rápido resumo histórico sobre esta
empresa, também representativo da história de suas co-irmãs.
I - 2
VAL D'OSNE, BERÇO DA FUNDIÇÃO
ARTÍSTICA
Em 1833, Jean Pierre Victor André, administrador de forjas, decide
lançar-se nesta aventura e, em
28 de Outubro de 1834, solicita ao rei Luís-Felipe autorização para construir um alto-forno.
Sua escolha recai curiosamente num local antigamente ocupado por um mosteiro,
afastado da cidade e escondido no fundo de um vale: Val d'Osne. Naquela época,
todas as
usinas eram instaladas sobre cursos d'água
de vazão regular e suficiente para provocar o giro das rodas d'água.
O Osne é um riacho. Em compensação, minério
de excelente qualidade abunda nas florestas próximas, bem como
areia.
Autorizado por ordem real de 5 de Abril de 1836 para construir sua usina,
Jean Pierre Victor André começa pela edificação
do alto-forno, ainda existente até hoje, e inicia rapidamente uma produção
voltada para a fundição decorativa: "a fundição
ornamental era desconhecida antes do senhor Victor André. Limitava-se à
produção de tubos, placas e potes. O senhor André montou
de ponta a ponta a indústria da fundição ornamental
do ferro fundido", escreverá em 1912 o cronista de Val d'Osne, abade
Hubert Maréchal.
Ninguém sabe quais foram as motivações do industrial.
Ele já tinha comprovado sua competência técnica em outros
locais, porém, contrariamente a Antoine Durenne, também
grande fundidor artístico da Haute-Marne, não encontramos
nenhum vestígio de formação artística. André, no
entanto, vivia em Paris e frequentava os escultores numa época
em que a nasciturna revolução industrial atraía os
criadores. Dentre os quais, Mathurin Moreau, autor de uma quantidade
impressionante de modelos para Val d'Osne e que se tornaria um
dos dirigentes dessa companhia.
A empresa desenvolveu-se. Em 1844 emprega 220 operários, cada
vez mais especializados, e acrescenta a seu alto-forno (forno de primeira
fusão) 2 "wilkinsons" ou cubilôs (fornos de segunda fusão)
para aumentar a produção. Participa de todas as exposições
nacionais ou internacionais, sendo premiada em todas elas. A morte prematura
de André, em 1851, não lhe permitirá colher os
frutos de seu trabalho nem participar dos espetáculos de arte
e progresso que as exposições universais se tornarão a partir daquele mesmo ano.
Contudo,
junto aos maiores escultores do século XIX, ele permanecerá na origem deste matrimônio da arte com a indústria,
que dará à fundição do ferro um extraordinário
impulso, criando êmulos, aperfeiçoando novas técnicas e construindo uma obra que se tornará uma herança cultural
para a Haute-Marne.
Após seu falecimento, sua esposa
assumirá a direção da usina por quatro anos, vendendo-a em seguida a Gustave Barbezat, antigo "aluno" de
seu marido, instalado em Paris.
Barbezat
monta um segundo alto-forno, amplia a usina e desenvolve
a atividade com novos modelos. Para seus operários, cujo quadro se
expande, ele constrói, em 1866, alojamentos cujos últimos
locatários partiram em 1987.
Em
1867, Val
d'Osne é comprada por Fourment e Houillé &
Cia., que assegura uma administração competente até 1870, continuando
a desenvolver a fundição artística.
De 1870 a 1892, Val
d'Osne vive, sob a razão social "Société
Anonyme des Fonderies d'Art du Val d'Osne, um período de intensa
atividade, durante o qual os belíssimos acervos de modelos
de arte da usina Ducel serão adquiridos (1878), mas também
de turbulência financeira que obriga um importante grupo de acionistas
a assumir as rédeas do negócio e nomear, como principal executivo
da empresa, Charles Hanoteau,
engenheiro e antigo aluno da Escola Central de Paris. Hanoteau saneia o negócio
enquanto desenvolve uma política
social destinada a melhorar as condições dos operários
e de suas famílias.
Desde o final de 1872, Val
d'Osne explora um processo de galvanoplastia
aperfeiçoado em suas oficinas. Trata-se da patente dos senhores Gaudin, Mignon e
Rouart, administradores de Val d'Osne, os quais Charles
Hanoteau muito se empenhará para afastar. Este
processo visava recobrir de zinco, cobre ou bronze o ferro fundido, a quente,
por imersão em banho, ou a frio, por depósito eletrolítico.
O objetivo era, naturalmente, a proteção da peça contra
a oxidação e, portanto, a corrosão.
As estátuas do Rio
de Janeiro aparentemente não foram beneficiadas por tal processo, que evita a corrosão do material por meio de fenômeno
eletrolítico.
Em 1895,
Hanoteau transfere seus poderes de administrador-delegado a seu
filho Henri, também egresso da Escola Central, que ainda trabalharia lá em 1912.
Em 1917, o registro das horas de trabalho dos operários indica
que eles fabricam essencialmente granadas e obuses. A usina foi provavelmente
requisitada pelo governo francês durante a tormentosa primeira guerra
mundial.
Em 1931, a sociedade
Durenne, fundada por outro grande fundidor artístico
da Haute-Marne, em Sommevoire, adquire Val d'Osne. A empresa torna-se assim
a Société Anonyme Durenne et du Val d'Osne. O administrador
de Durenne reorienta a produção para peças
mecânicas, suprimindo progressivamente a fundição artística.
Se a fundição de arte da Haute-Marne dominava o mercado
até 1939, modelos em ferro fundido serão, após a guerra,
muitas vezes refundidos em cubilôs (havia carência de matéria
prima) e os modelos em gesso serão quebrados a marreta e jogados no lixo para
dar lugar aos novos modelos. Somente os modelos religiosos escaparão,
por respeito; o local onde eram estocados era chamado "o paraíso".
Val
d'Osne cerrou definitivamente suas portas em 1986, no momento em
que suas produções do século passado ganhavam os museus e eram objeto deobstinados
leilões no mercado de arte.
O quadro de pessoal foi
reaproveitado nas fundições da região.
Descendentes de várias gerações de modeladores, moldadores
e cinzeladores, eles perpetuam em outros lugares o seu know-how.
I-3 - OS ARTISTAS COLABORADORES DE VAL
D'OSNE : A EXPRESSÃO
DE UMA ÉPOCA
O abade Maréchal escrevia em 1912: "Abordando a grande arte,
o senhor André e seus sucessores não cessaram de criar os
mais ricos modelos de estátuas, vasos, candelabros e chafarizes
monumentais. Os artistas mais famosos - Mathurin Moreau, Liénard,
Pradier, Carrier-Belleuse, Jacquemart, Isidore Bonheur, Delaplanche, Rouillard
e Gautherin - emprestaram-lhes sua ajuda e seu talento e colaboraram na
formação de uma coleção única no mundo".
Essa coleção, rica de
mais de 40.000 diferentes objetos, dispunha
de 800 estátuas humanas e 250 estátuas de animais, todas
representativas das correntes que influíram na arte do século
XIX: romantismo, neoclassicismo, ecletismo, realismo...
Boa
parte desses artistas, por intermédio dos fundidores, disseminaram-se pelo mundo,
mais especialmente no Brasil. A cidade do Rio de
Janeiro é um verdadeiro museu ao ar livre das produções
do século XIX. Para nós, que pesquisamos em 33
países, fora a França, o patrimônio carioca é
especialmente representativo: cerca de 150 peças em ferro fundido,
fontes e chafarizes, estátuas, vasos e objetos decorativos. Mais
de 70 diferentes modelos e 17 escultores franceses foram listados até
o momento. Vamos partir atrás destes escultores pelas ruas do Rio:
Mathurin Moreau, com 3 chafarizes, um dos quais monumental, e 26 diferentes
peças, monopoliza o assunto e reflete fielmente o conteúdo
dos catálogos de Val d'Osne do século passado.
Nascido em Dijon em 18 de Novembro de 1822, Mathurin foi iniciado à
arte por seu pai, o escultor Joseph Moreau. Mathurin e seus dois irmãos,
Auguste e François, mais conhecido como Hippolyte, começaram ao
lado do pai. Em 1841, ele ingressa na Escola de Belas-Artes de Paris,
tornando-se aluno de Ramey e Dumont, que apreciam profundamente seu talento. Um ano mais tarde,
é premiado com o segundo lugar em Roma e inicia no Salão
em 1848. Mathurin Moreau terá uma longa e fecunda carreira repleta de sucesso e honrarias. Suas obras são inumeráveis. Num
estilo sempre clássico, ele consegue, de uma forma elegante e requintada,
encontrar na mulher uma fonte inesgotável de inspiração.
Como administrador de Val d'Osne, ele cria inúmeros modelos e participa
dos aperfeiçoamentos técnicos.
Mathurin Moreau no Rio de Janeiro:
Mais de 25 diferentes estátuas, criadas por
esse artista, encontram-se
no Rio, além do chafariz monumental da praça Monroe, realizado
em colaboração com o arquiteto Liénard, com mais de
10 metros de altura e exposto pela primeira vez em Londres em 1862.
Vários chafarizes e fontes de Moreau ornamentam o Rio.
Esses
"castelos d'água", edificados no século passado em todas as
grandes cidades, permitem fornecer água para todos e são símbolos
de riqueza e modernidade.
O nascimento de Vênus é uma peça belíssima,
cujo tema inspirou vários artistas.
Florença possui a obra de
Botticelli... O Rio de Janeiro a de Mathurin Moreau.
São também obras alegóricas, celebrando:
• o progresso triunfante e seus filhos: a Indústria, o Comércio,
a Ciência, a Agricultura e a Marinha;
• as virtudes praticadas pelas nações modernas: a Justiça,
a Liberdade, a União, a Fidelidade;
• o mundo conquistado e o comércio internacional nascente: estátuas
da Europa, Ásia, África, América e Oceania; também
estátuas de Cristóvão Colombo, colocadas no mercado
para as comemorações do terceiro centenário da descoberta
da América em 1892;
• ou simplesmente as estações do ano. Embora essas estátuas
existam em vários exemplares, nós, europeus, procuramos em
vão o Inverno. Apenas a Primavera, o Verão e o Outono foram
localizadas por aqui.
A invenção do gás de iluminação e,
mais tarde, o nascimento da fada eletricidade vão orientar a inspiração
artística para as tochas e candelabros. Tais peças assinadas por Mathurin Moreau são
admiráveis: a Aurora e o Crepúsculo, encontrados em 5 diferentes lugares, são obras-primas de graça e leveza. Os corpos
são belíssimos, ligeiramente encobertos por um véu, o
braço erguido valorizando o busto perfeito. O ferro fundido é
de extrema fineza e sua "pele" muito lisa. Em 1995, a cidade de Saint-Dizier
adquiriu a Aurora e o Crepúsculo, de Mathurin Moreau, num leilão
organizado no castelo de Cheverny. Preço: cem mil francos.
Duas outras tocheiras númidas, designadas "negras" nos catálogos,
representam uma outra forma de exibir a magnificência da mulher e atender ao gosto do público.
O exotismo colonial estava em voga. Em 1903, um par de tocheiras,
semelhantes à peça pertencente à Secretaria de Cultura e Turismo, custava
1.100 Francos. Em 1990, elas foram adquiridas por 250 mil Francos.
Embora Mathurin Moreau fizesse parte dos mestres, venerados e incensados,
ele não hesitou em lançar-se, juntamente com os fundidores, na
produção de modelos menores. Como Hector Guimard que, no início
do século, desenhava e encomendava todos os elementos decorativos
das casas e imóveis que construía, Mathurin Moreau também
se interessou por estátuas de jardim ou pilastras de escadaria. Assim,
ele ilustrou de modo magistral a arte do ferro fundido que ornamentaria
tanto castelos quanto cabanas.
Jean-Jacques Pradier (James
Pradier) (1792/1852) foi, conforme consta,
o mais famoso escultor da Monarquia de Julho (1830/1848). No início,
um apaixonado pela pintura (foi grande amigo de Géricault), volta-se mais
tarde para a escultura e vence, aos 21 anos, o Grande Prêmio
de Roma. Acadêmico aos 37 anos, Pradier, apelidado de "o último
dos gregos", produzirá uma obra consequente no centro da qual
reinará a figura da mulher. Juliette Drouet, amiga de Victor Hugo, será
seu modelo vivo.
Todos concordam em louvar a obra de
Pradier, sensual e acadêmica...
menos Baudelaire que, por ocasião do Salão de 1846, escrevia:
"ele passou a vida a engrossar alguns torsos antigos e a ajustar em seus
pescoços penteados de cortesãs... Este pelo menos sabe produzir carne..."...
As graciosas estátuas Harmonia e Melancolia, encontradas no
Rio, desmentem o poeta.
Louis Leguesne (1815/1887), "aluno talentoso" de Pradier e
classificado em segundo lugar em Roma em 1843, inicia a promissora carreira
de escultor no decorrer da qual honrarias e encomendas afluirão.
Sua obra mais conhecida é "o fauno dançante" (Jardim de Luxemburgo,
Paris) que inspirará de Theophile Gauthier as seguintes linhas:
"ele encontrou o ritmo de movimento, o balanço de linhas cujo segredo os
antigos possuíam". Lequesne manifesta profundo interesse pelo ferro fundido
com suas novas técnicas e cria um determinado
número de modelos destinados à reprodução em
série. Nada garante que ele tenha dado o melhor
de si para modelar "o amor à lira", todavia o modelo possui o mérito
de existir! Que a modéstia desta composição não
oculte as demais peças em ferro fundido de Lequesne, particularmente
um cavalo, fundido por Ducele, vendido há pouco tempo por 620 mil
Francos.
Alphonse Lerolle, também aluno de
Pradier, era apelidado "o barbediano
do Marais", uma alusão à excelente qualidade das fundições
artísticas em bronze oriundas da fundição parisiense
de Barbedienne. Desse artista, a única obra
conhecida , em ferro fundido,
é o Rio: Pode ser encontrado no Rio de Janeiro.
Pierre Loison (1816/1886) foi, em Paris, aluno de David
d'Angers antes
de ingressar na Escola de Belas Artes. Sua Moça com a Concha é
um clássico dos catálogos para ferro fundido.
Gabriel Dubray (1813/1892) foi, da mesma forma que Mathurin
Moreau,
aluno de Ramay. Ele criará várias obras em ferro fundido,
encontradas no catálogo de Ducel e, mais tarde, nos catálogos
de Val d'Osne. Dentre elas, um Netuno, belo como um deus ou como aquelas
estátuas legadas pela antiguidade e que se tornaram imortais.
O Netuno de Dubray foi encontrado em
Trevano, Suíça,
nos jardins de uma academia de música em Apollo, Califórnia
e, finalmente, no México há menos de três meses atrás.
Louis Sauvageau (nascido em 1822): Em ferro fundido, somente
conhecemos desse artista a Fonte, uma estátua feminina que pode ser admirada
no Rio, isoladamente ou no centro de um chafariz monumental.
A Fonte também foi reencontrada em Apollo, Califórnia,
e no México.
Frédéric Iselin (1826/1905), aluno de Rude, grande escultor
reconhecido na posteridade. Iselin teve uma carreira pública
brilhante pois, durante o Império, foi encarregado de esculpir
o busto de Napoleão III. De Iselin, no Rio, em ferro fundido, existe
a Fonte da criança - uma obra típica de sua época.
Auguste Martin (1828/1910), aluno de Jouffroy e de Rude,
irá buscar inspiração principalmente na antiguidade. Sua obra está presente no Rio
com uma fonte bem "netuniana": crianças sereias carregadas por figuras
semi-humanas e pisciformes.
Alfred Jacquemart (1824/1896) ingressará na Escola de Belas Artes
aos 21 anos, aconselhado por seu professor de escultura, Klagmann. Inicia
carreira no Salão mostrando, não uma mulher ou uma composição
mitológica, mas um animal: uma garça. Com efeito, a onda "animalista"
tomará posse da escultura no século XIX e marcará
profundamente a obra de Jacquemart.
Os dois leões do Hotel Novo Mundo, na praia do Flamengo, testemunham
essa tendência para a arte animalista. São atribuídas
a ele, na França, outras obras de animais: o leão do Val d'Osne, que
guarnece a usina desde o século passado, o rinoceronte
do museu de Orsay, fundido por Voruz em Nantes, ou ainda cães, até
hoje fundidos nas fundições GHM (Sommevoire) a partir de
modelos do século passado.
Pierre Rouillard (1820/1880) foi um dos mais famosos escultores
animalistas.
Seu cavalo, obra única fundida pela fundição Durenne,
ornamenta a entrada do museu de Orsay. Ex-aluno de Cortot, ele participará
da decoração do Louvre, do museu de História Natural
e da Ópera de Paris. Em Constantinopla, trabalhará no palácio
do sultão e ainda hoje podem ser vistos nos jardins do Dolmabahce
leões e vasos monumentais. O proprietário de um vaso idêntico
recebeu recentemente uma proposta de venda no valor de 700 mil Francos.
O Jockey Club do Rio possui "Dollar", um famoso cavalo de corridas:
peça rara e de alta qualidade encontrada também no campo
de corridas de Maisons-Laffite em Paris.
Na
Haute-Marne, seu Cervo da América orna Sommevoire e Saint-Dizier;
"Royal", o garanhão, pode ser encontrado em Curel, perto de Val d'Osne.
Jules Salmson (1823/1902), também aluno da oficina Ramey-Dumont
e amigo de Lequesne, após trilhar o percurso clássico - Escola de
Belas Artes e Salão - seguirá uma bela carreira e trabalhará
na Val d'Osne em cinco diferentes modelos, dentre os quais o Índio
e a Índia, reencontrados no Rio.
Georges Clère (1819/1901), aluno de Rude,
foi provavelmente dono de sua própria fundição. Em Val d'Osne,
trabalhou numa tocheira antiga de classicismo pouco inovador.
Provin
Serres, aluno de Moreau, fornecerá três modelos
a Val d'Osne, inclusive a belíssima sereia do Campo de Santana que
ilustra os cartões postais do Rio desde o século passado.
Charles Auguste Lebourg (1829/1906),
depois de estudar escultura
em Nantes, sua terra natal, ingressará em 1851 no ateliê de
Rude. Sua carreira, repleta de prêmios e encomendas públicas,
dará uma reviravolta decisiva ao encontrar Sir Richard Wallace,
um rico herdeiro inglês cujo busto esculpirá bem como o de
Lady Wallace. Wallace, apaixonado por Paris, ficou surpreso com a pouca quantidade
de pontos d'água de que dispunham os habitantes da cidade, atacada
pelos prussianos em 1870. Tomou assim a decisão de oferecer à cidade de Paris "drinkings
fountains", semelhantes às de Londres, e para tanto recorreu
a Charles Lebourg que projetou dois modelos: um chafariz mural e o famoso "Wallace", com cariátides, que
daria a volta ao mundo, inúmeras
vezes copiado mas nunca igualado. Foi Barbezat, em Val d'Osne, o moldador
e ajustador dos 40 chafarizes encomendados pelo mecenas. Na realidade, haverá
mais de cem.
Em
certos bairros parisienses que não foram demasiadamente alterados pelo urbanismo,
ainda sobraram chafarizes doados por Richard Wallace. Estes se integraram
de modo tal à paisagem que o município passa a encomendar
regularmente novas peças... Na Haute-Marne, visto que a fundição
de arte GHM perpetua tal fabricação.
Os
chafarizes Wallace foram exportados para diversos países. Foram
reencontrados nos Estados Unidos, e na Suíça, no Jardim Botânico
e Floresta da Tijuca - Rio de Janeiro.
Outras assinaturas
podem ser encontradas no Rio, de autoria de artistas,
não do século XIX, mas do século XVIII: Atalante e Hipomena, de
Lepautre et
Coustou, ou Mercúrio, de Jean de Bologne, a principal peça da obra
desse escultor do século XVI.
Hígia, Hipócrates e a Diana de Gabiés são
cópias de estátuas existentes também em museus (o
Louvre, por exemplo).
Também existem modelos anônimos "pertencentes à
Société Anonyme des Hauts-Fourneaux et Fonderies du Val d'Osne"
dos quais "cópias, imitações, falsificações
e submoldagens serão reprimidas conforme a lei..."
Foram
evocadas aqui somente as peças artísticas em ferro
fundido existentes no Rio de Janeiro. Podem ser encontradas, no entanto, em
outras cidades brasileiras: Belém, Recife, Petrópolis, Manaus, Salvador e
Florianópolis. Reencontramos muitas vêzes os mesmos
escultores. Permito-me, contudo, evocar Dielbot do qual as duas mais importantes
estátuas foram localizadas em Manaus: o Zuavo e o Fuzileiro. As peças ornavam outrora a ponte de Alma, em Paris. Retiradas dali, não
mais se teve notícias delas.
Georges Dielbot (1816/1861), natural de Dijon e aluno de Ramey e Dumont,
como Mathurin Moreau, ganhará o Prêmio de Roma em 1841. Trabalhará
também para o Louvre e fornecerá diferentes modelos para
ferro fundido, inclusive o Zuavo e o Fuzileiro.
II - 1
- PREFÁCIO
Desde a obra original do escultor até a estátua
concluída,
muitas horas se passarão e variadas competências serão
envolvidas. O esquema a seguir permite colocar em cena uma dezena
de profissões diferentes e complementares: o escultor, o modelador, o moldador, o
nucleador, o fundidor, o rebarbador,
o cinzelador, o ajustador e o aplicador de pátina.
Graças aos relatórios das exposições universais,
os progressos técnicos puderam ser acompanhados. 1855: "As obras
ornamentais fundidas, que outrora eram pesadas e sem graça, distinguem-se
hoje pela elevada pureza de formas aliada a uma admirável delicadeza
de execução"; 1867: "Eles (os fundidores) conseguem fazer
tudo o que desejam. Moldagens artísticas de objetos delicados ou
de monumentos, eles tudo abordam com o mesmo êxito". Em 1873, Antoine
Durenne, então membro do júri, comentará a história
industrial e técnica da fundição artística
numa nota bastante interessante na qual evoca a habilidade dos operários,
alguns deles "verdadeiros artistas".
A fabricação de uma estátua requer, com efeito,
muitas horas de trabalho e múltiplas competências.
II - 2
- O MODELO
II-2-a - definição
O modelo é uma reprodução da obra original do
artista. Geralmente, este original, em terra, é moldado em gesso.
A partir dessa impressão, o modelador cria o modelo, também
de gesso, destinado ao fundidor. Esse modelo será utilizado somente uma vez, caso o escultor deseje uma obra única, ou dezenas
de vezes como ocorreu no caso dos modelos de fundição
artística.
Esse mesmo modelo poderá ser reproduzido em tamanho original
ou em diferentes tamanhos graças a um processo de reprodução
inventado por Achille Collas: o pantógrafo. Dessa forma, as numerosas obras-primas, até então dentro
dos museus, puderam ser "recopiadas".
Em consequência da retração da peça fundida
no momento de seu arrefecimento, o modelo deverá ter dimensões
superiores de 1,5% em relação à obra desejada.
II-2-b - Gesso
O gesso é empregado de preferência para modelos esculpidos
que apresentam certos relevos. Podendo ser cortado de forma melhor que a
madeira, o material oferece ângulos mais vivos que são guarnecidos
com a dureza necessária para resistir à moldagem, pela aplicação de uma camada de óleo
sicativo.
II-2-c - Contra-modelo em metal
Com o objetivo de preservar os gessos utilizados geralmente, um contra-modelo
é às vezes produzido em metal (ferro, bronze, estanho). Esse novo modelo
é, na maioria das vezes, fundido elemento por
elemento (correspondente aos blocos comprimidos: ver moldagem).
II-2-d - Elastômero
O elastômero é um polímero que possui propriedades
elásticas. É utilizado para copiar um modelo e permitir sua
reprodução em ferro fundido por meio de técnicas simplificadas.
Trata-se de uma tomada de impressão, em positivo, pela aplicação
de elastômero a quente. Falaremos mais a respeito do elastômero
ao abordarmos as técnicas de restauro.
II-2-e - Materiais atuais
Outros materiais são utilizados para a confecção
de modelos, mais especialmente as resinas sintéticas, das quais a utilidade
será constatada quando da restauração das obras fundidas.
II - 3 - MOLDAGEM
II-3-a - definição
A moldagem consiste na coleta da impressão da peça
que se deseja reproduzir. A moldagem das peças artísticas
em ferro fundido é feita com areia, argila ou terra.
Existem outros processos de moldagem que
mencionaremos apenas como
lembrete pois não tocam diretamente o assunto que nos diz respeito:
a moldagem em carapaça, coquilha e cerâmica, cujas aplicações
são específicas.
Tampouco evocaremos as moldagens a modelo perdido (cera ou poliestireno
perdidos), e a vácuo. Embora possam ter relação com a fundição
artística, elas se aplicam geralmente ao bronze para a produção de exemplares
únicos.
Será
necessário frisar que a qualidade da peça
fundida moldada, tanto no que tange sua superfície e seus contornos
quanto sua lisura, depende da qualidade da moldagem e da areia utilizada?
A moldagem das fundições artísticas
é feita mais
tradicionalmente:
II-3-b - em areia verde
Executada à mão ou à máquina, a moldagem
em areia verde consiste na utilização de um molde constituído de areia
argilosa úmida comprimida. A expressão "verde" alude à
presença de umidade na areia e indica que o molde não está seco nem estufado.
Apesar de ser amplamente utilizado, o método não
é adequado para as peças de grandes dimensões
ou peso elevado.
II-3-c - em areia dura
Esse processo é usado para peças de grande
porte e consiste na utilização de areia dura. Tão logo o
molde estiver confeccionado e o modelo retirado, pulveriza-se um produto
refratário sobre a impressão do molde fazendo-o endurecer.
No processo clássico de moldagem em areia estufada, a areia é
endurecida por aquecimento do molde. No processo a frio, a areia seca,
sem argila, é misturada a uma resina aglomerante acrescida de um
catalisador que a faz endurecer em poucos minutos.
O moldador, trabalhando com areia verde ou areia dura,
trabalha da seguinte
forma: enche dois chassis com molde de areia bem compactada. Em seguida, colhe a impressão da peça a ser
produzida introduzindo
o modelo a meia espessura (no plano de junção), lado dianteiro
e lado traseiro, na areia de cada chassis. Após ter colocado o núcleo
e traçado o canal de escoamento e os dutos de escape
dos gazes, preparado as masselotas (reservas de metal líquido que
alimentarão a peça durante seu esfriamento), os chassis são
perfeitamente encaixados. O molde pode então receber o metal
em fusão que desposará exatamente os contornos da impressão
deixada na areia.
II-3-d - Moldagem em blocos comprimidos
A moldagem em blocos comprimidos é utilizada para os objetos
que apresentam concavidades em seus contornos e cuja desmoldagem não
seria possível mesmo quando modelos e chassis estivessem decompostos.
Nesta série, são incluídas principalmente as estátuas
e as peças ornamentais em relevo.
Nesse caso, a impressão dos elementos salientes ou côncavos,
que podem ser braços, roupas, atributos ou certos detalhes do rosto,
denominados contra-despojos, é colhida separadamente do conjunto,
compactando-se areia, em blocos, nas partes complexas. Mais tarde, iremos
propor-lhes uma visão da moldagem em blocos comprimidos de uma estátua,
que permitirá compreender melhor a técnica.
II-3-e - Moldagem de grandes estátuas
Quando se trata de moldar e fundir estátuas de grandes dimensões,
a manipulação do modelo é impossível. Este
é dividido em partes distintas e a moldagem de cada parte é feita quer
de modo tradicional, quer em blocos comprimidos. A última estátua
da Liberdade de Bartholdi, fundida em Sommevoire, em 1958, foi moldada desse
modo. Sua altura (12 metros) e a quantidade de metal necessária
(12 toneladas) exigiram técnicas especiais a respeito das quais
falaremos mais tarde.
II-3-f - Moldagem a molde giratório
A moldagem em terra, moldagem a molde giratório, foi utilizada
para grandes vasos e tanques: em torno do núcleo, circunda-se uma
espessura de terra, denominada falsa peça, que representa
com exatidão o objeto a ser fundido. Esta é recoberta por
várias camadas de terra espessa que compõem a chapa. A falsa peça
é então retirada, deixando o vão formado para a
passagem do metal. Após aquecer, comprimir e enterrar o molde, é feita a corrida. Em se tratando de peças ornamentadas a serem moldadas
em terra a molde giratório, grandes vasos ou tanques, devemos cuidar para
restituir à falsa peça ornamentos em cera ou modelos
em relevo, cuja impressão ficou retida pela chapa e que são
derretidos ou retirados por ocasião da desumidificação.
II-3-g
- submoldagem
Quando o fundidor necessita refundir uma peça da qual ele nunca
possuiu ou não possui mais o modelo, ele colhe a impressão
diretamente na peça fundida. Esse processo não proporciona
satisfação total visto que os motivos perdem nitidez e a peça
obtida dessa forma é 1,5% menor que seu modelo em consequência
da retração do metal.
II-3-h - moldagem a elastômetro
A flexibilidade do elastômetro permite moldar contra-despojos
sem problema. Após a coleta da impressão, a areia é
despojada do modelo, que é retirado como uma luva deixando intactos todos
os relevos.
II - 4 - O NÚCLEO
II-4-a - definição
Os núcleos são elementos de areia que foram endurecidos
permitindo sua manipulação. São introduzidos no molde para
constituírem as superfícies interiores da peça moldada
ou para dar forma a uma superfície externa onde não é possível fazê-lo com a ajuda do modelo. A complexidade do núcleo depende
da configuração interna da peça.
II-4-b - Os diversos materiais possíveis
O núcleo é geralmente constituído de areia siliciosa
misturada com um ligante (óleo ou resina termo-endurecedora). Ele
será compactado à mão dentro de uma caixa de núcleo
ou à máquina. Nesse caso, utiliza-se ar comprimido ou um
gás frio que permitem, tanto um quanto outro, o endurecimento instantâneo
do núcleo.
II-4-c - Os processos tradicionais
Todas as peças artísticas em ferro fundido são
ocas por razões de peso e principalmente para a uniformização
do arrefecimento do metal. Para confeccionar o núcleo das estátuas,
era necessário preencher a impressão exterior com areia compactada,
endurecida por ocasião do estufamento. O núcleo era então
retirado e lixado de modo a subtrair uma espessura uniforme e deixando
um espaço vazio entre a impressão do molde e o núcleo.
Após recolocar o núcleo, suspenso por traves no centro da
impressão, era feita a corrida e o metal preenchia assim o vão
livre já preparado.
II - 5 - ELABORAÇÃO E CORRIDA DO METAL
II-5-a - Histórico
O ferro não existindo em estado natural sobre a Terra mas sob
a forma de óxido, ele será elaborado através de redução
do minério de ferro num alto-forno. Camadas alternadas de minério
de ferro, triturado e lavado, elementos fundidores destinados a aglomerar
as impurezas, e combustível (carvão vegetal) são enfornadas
permanentemente no alto-forno. O carvão vegetal desempenha um papel
complexo:
- ele funde: sob o efeito do calor, o minério grelha, torna-se
pastoso e se liquefaz, descendo para a parte inferior do alto-forno:
o cadinho.
- ele reduz: o carbono, ávido por oxigênio, "suga" o oxigênio
contido no minério de ferro que se transforma em ferro,
- ele alia-se: partículas de carbono misturam-se ao ferro, modificando
assim a estrutura e os componentes mecânicos do metal, que se torna
então ferro fundido, ou seja, ferro contendo partículas
de carbono sob a forma de lamelas.
As primeiras peças artísticas foram
produzidas em
ferro gusa de primeira fusão, elaborado nos altos-fornos. Mais tarde,
foram fundidas com material de segunda fusão, refundido nos cubilôs.
O cubilô é um aparelho de fusão dotado de uma cuba
dentro da qual alterna-se pedaços de ferro gusa da primeira ou da
segunda fusão com elementos fundidores e coque.
Inventado no século XVIII pelo cientista metalúrgico
francês Réaumur, o cubilô continua sendo o principal
meio de fusão destinado a gerar ferro fundido cinzento - material
utilizado desde o século XIX para a confecção de peças
artísticas em ferro fundido. Com um funcionamento seguro, simples e
econômico, apesar do advento de novas tecnologias, o cubilô
ainda deverá prestar muitos e bons serviços.
Outros aparelhos de fusão,
tais como os fornos a gás ou elétricos,
permitem elaborar peças mais complexas, utilizadas para o mobiliário
urbano. Abordaremos aqui apenas o cubilô e o ferro fundido cinzento
a grafite lamelada.
II-5-b - Modo de funcionamento do cubilô e corrida
O metal em fusão desce para a parte inferior do cubilô,
onde se acumula. No momento do escoamento, realiza-se a limpeza, isto é,
a evacuação das impurezas que flutuam na superfície
do metal. A evacuação é feita através de
um orifício localizado lateralmente. As impurezas são recolhidas
num recipiente e, em seguida, evacuadas.
A corrida a partir do cubilô ocorre após a
remoção da tampa refratária que veda o orifício de escoamento. O
metal corre então através da canaleta de corrida para um
bolso em ferro fundido aquecido, dotado de revestimento refratário.
O bolso é transportado para o canteiro de moldagem, onde o molde,
que não deve de modo algum ser transportado, está aguardando.
A corrida consiste no enchimento do molde com metal a
1.500º C. Este vai se introduzir no espaço já preparado e desposar fielmente
a impressão externa e interna formada pelo moldador.
As peças artísticas fundidas são geralmente vertidas
num único jato. Caso sejam volumosas, duas ou três alimentações
simultâneas podem ser realizadas através de dois ou três
orifícios diferentes.
Caso se trate de estátuas volumosas, cada molde é corrido
em separado. As diferentes partes serão reunidas e montadas na
oficina de ajustagem.
- a corrida por bolso é a mais utilizada. Os bolsos podem conter
entre 30 kg e várias toneladas e são trazidos para baixo
da canaleta de corrida do cubilô. Destampado o orifício,
o metal derretido escorre para dentro do bolso que será transportado
até o molde e inclinado de modo a verter o metal no molde. A velocidade
da corrida, bem como a localização dos jatos, canais e respiradouros,
desempenham um papel essencial para o êxito da operação. O
ataque da corrida é geralmente colocado no plano de junção
de modo a proporcionar alimentação uniforme na peça.
No caso das estátuas, esse ataque é colocado nas dobras e nos detalhes dos corpos de modo a
ficar invisível após
o acabamento.
- existem outras técnicas de corrida:
- A corrida em queda livre consiste
na alimentação dos moldes em ferro
fundido a partir diretamente do alto-forno ou do cubilô, por meio
de canaletas de corrida que descem para os canais e jatos de corrida do
molde. Os canais se localizam na base do forno e são construídos
em declives suficientemente angulados para alimentar o molde sem rapidez nem
lentidão excessivas. Para facilitar a penetração
do metal, os moldes são inclinados.
- a corrida em
chafariz: a peça é alimentada pelo fundo
e o metal aflora até as masselotas localizadas acima da peça.
- a corrida por centrifugação: o metal, introduzido num
molde em rápida rotação, adere às paredes deste. A moldagem de
tubos é feita dessa forma.
- a corrida contínua, utilizada para fabricar mono-produtos
derramados por gravitação numa matriz em grafite.
- a corrida sob pressão, processo experimental permitindo a
confecção de pequenas peças com altíssimo nível de detalhamento.
II-5-c - O ferro fundido na GHM Sommevoire para as peças ornamentais
Na fundição artística GHM, em
Sommevoire, a fundição
das peças ornamentais é elaborada do seguinte modo:
Tipo de ferro fundido: ferro fundido cinza, chamado
FGL, ferro fundido
a grafite lamelada a 3,25 - 3,5% de carbono, 2 - 2,5% de silício,
0,7% de manganês.
O meio de fusão é um forno cubilô a vento frio com
vazão de 3,8 ton/hora.
Elaboração do ferro fundido: carregamento do cubilô
7 vezes por hora. Cada carga pesa 450 kg e é composta de:
. ferro novo em lingote (ferro brasileiro): 15 - 20%
. aços: 10 - 15%
. VF 1 (ferro velho, recuperação de ferro de motores),
. VF 2 (recuperação de ferro de radiadores).
. retornos de corrida: 60 a 70%
. acréscimos de silício e magnésio
. coque: combustível: 13 - 15%
. castina (dá fluidez e aglomera as impurezas ou escórias):
6%
A temperatura na saída do cubilô é de 1.450º
C - 1.500º. Na corrida nos moldes, ela se reduziu a 1.350º - 1.430º O ponto de
fusão situa-se em 1.150º
II-6 - ACABAMENTOS
Após a corrida, a peça permanece no molde por
um período suficiente
para assegurar seu esfriamento. Este deve acontecer de modo progressivo.
Em seguida, ocorrerão operações importantes e delicadas:
II-6-a - Separação e desenchimento
Separação consiste em extrair a peça de seu molde.
Este é colocado sobre um aparelho que, por vibração,
destrói o molde e evacua a areia. O núcleo, ainda retido
no interior da peça, também é evacuado por fratura
da areia em pedaços.
II-6-b - areamento
A peça será limpa da areia que ainda adere na sua superfície
por meio de projeção de areia, bilhas de aço ou escórias,
que lhe proporcionará um aspecto liso e limpo. Antigamente, essa operação
era realizada com o uso de escova metálica.
II-6-c - rebarbagem
A peça limpa será
entregue ao rebarbador que irá
suprimir rebarbas, imperfeições e excrescências de
metal resultantes da corrida, bem como os jatos, respiradouros, canais
de escoamento e masselotas. Efetuada antigamente com o uso da lima e do alicate,
tal operação é hoje realizada por meio de fratura
e esmerilamento.
II-6-d - os reparos
Tão logo a peça é posta "a descoberto",
as aberturas (poços de evacuação do núcleo
e saída das traves que suspendem o núcleo dentro do molde,
por exemplo) são soldadas e vedadas e as asperezas e os pequenos defeitos
aparentes são regularizados.
II-6-e - a cinzelagem
Essa operação, efetuada pelo escultor ou pelos operários
mais habilidosos, consiste em devolver vida e frescor à peça.
Cinzéis e encalcadeiras são utilizados para suprimir todos
os vestígios da corrida, apagar as junções, reavivar
um olhar ou aprofundar a dobra de um vestido. Em 1847, Guettier escrevia:
"O ferro fundido quando doce é perfeitamente reparável por
meio de lima e encalcadeira e, caso a primeira moldagem tenha sido realizada
com cuidado, ele apresenta uma superfície mais unida do que qualquer
outro metal".
II-6-f - a montagem
Se a moldagem e a corrida foram efetuadas em diferentes partes, a estátua
é montada por meio de encaixe a frio. Este será consolidado
por grampos fixados por rebites ou pinos aparafusados no interior da
estátua. Em seguida, o cinzelador intervirá para "reacasalar
o metal" e apagar qualquer vestígio da junção.
II-6-g - o polimento
Antes de receber seu revestimento, o metal é polido de
forma a proporcionar uma pele azul-prateada, muito lisa.
II-6-h - pintura, galvanoplastia
Em seguida, para protege-las da oxidação e, portanto,
da ferrugem, as obras em ferro fundido são imediatamente recobertas
de pintura, zinco ou bronze. Essa galvanoplastia pode ser efetuada tanto
a frio, por depósito eletrolítico, como a quente, por imersão
em banho.
O abade Maréchal escrevia: "elas são por fim levadas
ao pincel dos pintores que deve dar-lhes o tom da pedra, do mármore
ou do bronze antigo, e até mesmo do ouro e da prata!" Outro método
consistia em recobrir a peça a quente com óleo de linhaça.
Para ilustrar melhor
essa exposição, bastante técnica, proponho que vocês acompanhem,
através de slides, a fabricação
de uma cariátide pertencente a um chafariz Wallace.
Por ocasião
de uma visita aos altos-fornos de Usilor-Sacilor - um grande grupo siderúrgico francês
- fiquei perplexa com um comentário do diretor do laboratório de pesquisas,
que me revelou que, depois de passar vinte anos observando
o ferro sob todas as suas formas, o material ainda lhe era misterioso.
Uma confidência surpreendente por parte de um especialista! Saberão
todos que o ferro é o único metal magnético e o único
cuja estrutura molecular varia no decorrer da elaboração?
III-1 - O MINÉRIO DE FERRO
O ferro nativo, de origem plutoniana ou meteórica, e os minerais
carbonatados são relativamente raros na Franca. Em compensação,
os minérios oxidados, hematita vermelha, magnetita negra, limonita
parda e minérios oolíticos são abundantes naquele
país.
Na
Haute-Marne, trata-se de minério de ferro hidratado, granuloso
ou minério em grãos, denominado minério neocomiano
ou minério portland. Caso o tratado de fundição redigido
em 1847 por Guettier tenha credibilidade, esse tipo de minério
tem a reputação de fornecer as mais belas peças moldadas
em ferro fundido e de ser menos vulnerável ao ataque do contato
com o ar.
Com teor médio de ferro de 50%, este minério
também contém, em proporções reduzidas, outros elementos
que irão influir nas características do metal.
III-2 - DEFINIÇÃO DO FERRO FUNDIDO
"Carboneto de ferro que é produto imediato do tratamento dos
minérios de ferro, ou dos ferros, pelo carbono". É elaborado
em alto-forno por meio do tratamento de uma mistura adequada de minério,
combustível e elementos fundidores. O alto-forno exerce um papel
de reator químico complexo. A redução de óxido
de ferro acontece graças ao óxido de carbono CO produzido pelas
reações à alta temperatura.
Eis a fórmula simplificada da redução:
Fe2 O3 + CO = 2 FeO + CO2
III-3 - DIFERENTES CATEGORIAS DE FERRO FUNDIDO
No século XIX, distinguia-se quatro variedades de ferro fundido,
cujas qualidades diferiam conforme a combinação mais ou menos
ativa do carbono: o ferro fundido negro e o cinzento, mais carburado, destinados
à moldagem; o ferro fundido intermediário e o branco, destinados
à afinagem.
Atualmente, seis categorias de ferro fundido são utilizadas:
- o ferro fundido cinzento a grafite lamelada, o mais utilizado,
- o ferro fundido a grafite esferoidal, também chamado ferro
fundido GS, cujas qualidades mecânicas situam-se próximas
às do aço,
- o ferro fundido a grafite vermicular, recentemente concebido, combinando
as vantagens mecânicas do ferro GS e o grau de moldagem do cinzento,
- o ferro fundido branco, sem grafite, utilizado por suas qualidades
de resistência à fricção e ao abrasamento,
- o ferro fundido maleável, isto é, o branco cozido novamente de modo a adquirir
uma resistência mecânica ainda mais elevada,
- o ferro fundido aliado, com qualidades próximas às
do aço, reservado para utilidades específicas.
III-4 - O FERRO FUNDIDO A GRAFITE LAMELADA
O ferro fundido cinzento é uma combinação de ferro
com proporções de carbono que podem variar de 2,5 a 4,5%.
O carbono alia-se ao ferro sob a forma de palhetas grafitosas lameladas
e tem a propriedade de aumentar a tenacidade deste.
Tal combinação se complica conforme o modelo de tratamento
aplicado e conforme a natureza dos minérios.
Com efeito, o ferro fundido recebe destes minérios ínfimas
quantidades de diferentes elementos, como o fósforo, que torna o ferro
fundido quebradiço sob frio, fornecendo-lhe contudo fusibilidade
e fluidez indispensáveis para a moldagem de ornamentos delicados;
o silício, que fornece fluidez ao ferro fundido de moldagem; o alumínio
que impede a formação de bolhas e aumenta a tenacidade das
moldagens; o manganês que, em proporções reduzidas, possui propriedades de afinagem e desulfuração; o enxofre, que o
torna quebradiço sob calor e cuja presença danosa aumenta
a retração e faz recompactar o ferro fundido, o potássio
e o arsênio.
Num manual do fundidor de 1847, o ferro fundido cinzento era assim definido:
"um pouco elástico, um pouco flexível, um pouco dúctil,
um pouco maleável... fluido e doce, tem grande expansão e
não tão grande retração ao solidificar-se.
O produto pode, portanto, reproduzir melhor do que o cobre os objetos mais
delicados. São a estas propriedades que devemos os ornamentos tão
nítidos e bem cuidados que enfeitam as residências, praças e jardins
públicos... As estátuas moldadas para os chafarizes de Paris
pelos senhores Calla, André e Muel demonstram que a fundição
de ferro pode desde já partilhar com a fundição de
cobre a reprodução das obras de nossos artistas".
III-5 - QUALIDADES E DEFEITOS DO FERRO FUNDIDO CINZA GL DO
SÉCULO XIX
III-5-a - Qualidades:
. Elevado grau de fluidez sob alta temperatura que lhe permite desposar
os menores detalhes do molde e reproduzir objetos perfeitos. "As impressões
recebidas pelo ferro fundido cinza são tão perfeitas que podem garantir ao escultor a sua obra perfeita e
a salvo do buril
do cinzelador".
. Elaborado com carvão vegetal, o ferro fundido cinza é
doce e puro, com admiráveis qualidades de lisura e resistência.
Caso o molde tenha sido confeccionado com cuidado, o material apresentará uma superfície
mais unida do que qualquer outro metal.
. Quando doce, é perfeitamente reparável por meio de
lima ou encalcadeira.
. Extremamente resistente à compressão (sessenta vezes
mais do que a pedra), ele se presta facilmente à moldagem, permitindo
a obtenção de peças em monobloco que apresentam certa
complexidade.
. Sua densidade (7,8) autoriza uma grande resistência para um
volume mínimo. Em arquitetura, uma coluna contendo concreto deverá
ter um diâmetro cinco vezes maior do que o de uma coluna em ferro
fundido, para a mesma utilização.
. Resistência à usura.
. Nem gélivo, nem permeável à água, ele
resiste bem às intempéries e à corrosão, sobretudo
quando pintado: candelabros da praça Concorde moldados em 1840 foram
trocados somente em 1992 por ocasião de uma reurbanização
dos Champs Elysées.
. Baixo custo.
III-5-b - Defeitos:
. Fragilidade: as lamelas de carbono integrantes de sua estrutura
metalográfica também são pontos ruptíveis.
. Quebradiço: sua baixa resistência à tração,
à flexão e às vibrações deixa-o inapto
a determinadas produções, como pontes, trilhos de estrada
de ferro e vigamentos.
. Salvo no caso de ferro fundido muito doce, ele não pode ser
forjado nem tampouco martelado a quente ou a frio.
. É extremamente difícil de soldar.
. É pesado.
. A oxidação provoca-lhe uma cor parda-avermelhada pouco
compatível com os critérios artísticos.
III-6 - ANÁLISE POR ESPECTOGRAFIA E MICROGRAFIA DE
UM ELEMENTO DE ESTÁTUA FUNDIDA NO SÉCULO XIX EM SOMMEVOIRE
III-6-a - Espectografia:
A espectografia
possibilita o reconhecimento instantâneo dos diferentes componentes
de um metal através da análise de seu espectro. A emissão ou absorção
de luz pelos corpos é causada por modificações
energéticas no interior dos átomos ou das moléculas.
O comprimento da onda de luz emitida ou absorvida será sempre uma característica
do átomo ou da molécula, permitindo a identificação
do corpo por meio da identificação de seu espectro. Em espectografia
de emissão, utiliza-se:
. a espectografia em chama (jato de líquido pulverizado numa chama
e análise da intensidade das raias por meio de célula fotoelétrica)
. a espectografia de arco ou de centelha, na qual dispara-se um arco
elétrico entre o metal a ser estudado e um eletrodo.
O segundo método foi utilizado para analisar
uma peça de
estátua (dedo) fundida no século passado pela fundição
de Sommevoire. A leitura do espectro, após o centelhamento, revelou
os seguintes resultados:
- Carbono: 3,44% combustão em forno alto-forno, detecção
infravermelha
- Silício: 1,34%
gravimetria
- Manganês: 0,458%
- Fósforo: 1,57%
- Enxofre: 0,381%
- Ferro: 92,81%
O
teor de todos os demais elementos são inferiores a 0,1%
As altas taxas de enxofre e fósforo permitem concluir que este
material foi moldado diretamente a partir de um alto-forno tendo como base
um minério local.
A análise confirma as informações já colhidas
nos arquivos e relatórios de exposições universais.
A composição do ferro fundido GL é hoje, de
modo geral, a seguinte: de 2,5 a 3% de carbono, 2% de silício, 0,8%
de manganês, os demais elementos tendo sido eliminados na primeira
fusão ou incorporados à escoria.
III-6-b: micrografia
A
micrografia é a representação da estrutura de um metal observado através do
microscópio. A do material analisado faz ressaltar uma fonte infiltrada de
grossas lamelas de grafite, indicando forte tenacidade à ação do tempo mas
também vulnerabilidade a choques e tensões. Com efeito, cada lamela representa
um ponto de ruptura potencial.
Embora as qualidades de resistência do ferro fundido representam
o trunfo principal
da sua longevidade, ser quebradiço é o defeito que mais
devemos temer. Da mesma forma, no caso de estátuas e chafarizes
montados, é possível constatar sua fragilização com
o passar do tempo.
IV -1 - ENVELHECIMENTO
O ferro fundido não envelhece. Sua estrutura interna é
inerte, Na ausência de ataques externos, como a corrosão, a
não-datação do material chega a ser possível.
O ferro fundido protegido seria, portanto, eterno... Simplificando o fenômeno
ao extremo, é exatamente o que ocorre com o bronze e o cobre.
Nas fundições de Sommevoire,
tivemos a oportunidade de examinar alguns lampadários instalados em 1840 na praça Concorde,
em Paris, substituídos em 1990. Sem falar da alta qualidade dos
motivos, ficamos surpresos com o grão do ferro fundido e com o excelente
estado de conservação desses lampadários, apesar de ficarem
mergulhados,
durante um século e meio, numa atmosfera extremamente corrosiva. Por que,
então, foram eles trocados? Simplesmente porque sua estrutura não previa
a abertura, hoje indispensável, para a instalação
das caixas elétricas.
IV - 2 - CORROSÃO DO FERRO FUNDIDO CINZENTO
Embora o ferro fundido resista bem à corrosão e, de qualquer
forma, melhor que o aço ou o ferro, ele não é invulnerável.
Existem dois trabalhos referenciais tratando da corrosão do ferro
fundido: os livros "Corrosion Guide", de Rabad, e "Corrosion Data
Survey",
da N.A.C.E.
Levando-se em conta a especificação da peça artística
em ferro fundido, estudaremos mais detalhadamente a corrosão do
ferro fundido cinzento a grafite lamelada.
IV-2-a - definição
Trata-se da deterioração dos metais,
sob temperatura normal e sob o efeito de agentes atmosféricos, produtos químicos,
fenômenos eletroquímicos ou bacteriológicos.
Devemos
frisar que o ferro fundido, fraca ou fortemente aliado, apresenta alta resistência à corrosão. A composição
química e a repartição dos constituintes da microestrutura
do material são fatores que influenciam sua capacidade de luta contra
a corrosão.
Geralmente, as condições de ataque sendo homogêneas,
a corrosão é uniforme. Esse fenômeno se deve à
existência de fases finamente divididas. Dentro de um meio heterogêneo,
a corrosão pode assumir o aspecto de ataques localizados.
Em caso de ferro fundido protegido, a corrosão depende,
especialmente,
da natureza do metal suporte, das características e natureza da
interface metal-revestimento, da natureza do revestimento e do modo de
aplicação.
Em
quaisquer casos, qualquer que seja a agressividade da corrosão,
o ferro fundido permanece um material privilegiado na maioria dos
casos, em função da sua espessura.
Os fenômenos de corrosão podem ser químicos, eletroquímicos
e bioquímicos.
IV-2-b - Corrosão química
É
gerada pela interação entre metal, ar, águas, sais
e outros fatores que iremos desenvolver. Tais componentes entram em reação
química e diferentes produtos de alteração são
constituídos. Resulta daí uma modificação da
estrutura química do objeto.
- Processo de corrosão química
Dois fenômenos intervêm na corrosão química
do ferro fundido:
. a formação de uma camada de óxidos
Quando uma superfície em ferro fundido fica exposta à
umidade e ao ar, na presença de gás carbônico, óxidos
de ferro são rapidamente formados:
- a limonita: óxido hidratado de cor laranja escuro que surge
muito rapidamente,
- a ferrugem (2 FE 2 O3), de cor parda escura que, após exposição
prolongada, forma uma superfície porosa na qual ficam retidos agentes
corrosivos que podem penetrar as camadas e se fixar sobre o núcleo
metálico.
A presença de silício no ferro fundido provocará
a formação de uma camada de óxido de ferro-silicato
de ferro, densa e aderente, que retarda o processo de oxidação.
Praticamente, quando as condições são apropriadas,
a camada pode impedir o prosseguimento do ataque. Em inúmeras aplicações,
essa única proteção permite aos ferros fundidos cumprirem
sua função por cerca de dez anos.
. A grafitização: Na corrosão normal, o ferro se
transforma em óxido hidratado ao passo que a grafite, um material inerte,
não é atacada e mantém a ferrugem no lugar, formando
assim uma proteção eficaz contra a penetração
do meio agressivo. As partículas de grafite interrompem a progressão
da corrosão atmosférica, principalmente a progressão
por pontos. A acumulação de grafite na superfície
do metal corroído é às vezes impropriamente denominada de grafitização.
- Morfologia da corrosão química
Pode ser generalizada, uniforme, localizada na escala macroscópica
(em função da estrutura da peça ou da heterogeneidade
do meio), filiforme, localizada por ponto, intergranular, intragranular,
galvânica, cavernosa por pilha de concentração seletiva,
ou ainda resultante da ação combinada de corrosão
e tensões mecânicas.
- Diferentes tipos de corrosão química
A corrosão atmosférica é evidentemente aquela
que iremos desenvolver. Evocaremos contudo os demais tipos de corrosão
química que podem ser encontrados no âmbito da restauração
das peças artísticas em ferro fundido.
. Corrosão atmosférica
O ar ambiente
é composto por aproximadamente 77% de nitrogênio, 21% de oxigênio,
1% de argônio, entre 1 e 2% de água, e 0,03% de gás
carbônico. Também são encontrados traços de
gazes raros (hélio, criptônio, etc.), poluentes (gazes sulfurosos
e óxidos de nitrogênio), ions cloretos e poeiras (naturais ou
resultantes da poluição).
Do ponto de vista da corrosão, o dióxido de enxofre, ou
anidro sulfuroso, é o mais importante poluente. Origina-se essencialmente
da combustão do petróleo e do carvão. Os óxidos
de nitrogênio, despejados principalmente pelos motores a combustão, desempenham
papel menos importante que o dióxido de enxofre e os cloretos.
Dentre as poeiras, as partículas de fuligem, por exemplo, provenientes
de uma combustão incompleta são mais particularmente nocivas em
função de seu grau de corrosão.
Por fim, a umidade relativa do ar fornece uma indicação
crucial para os fenômenos de corrosão pois determina a condensação.
Ora, a água condensada pode formar um eletrólito na presença
de sais (oriundos de reações com poluentes, por exemplo).
O ferro fundido exposto à umidade do ar
fica rapidamente recoberto por um óxido cor laranja e, em seguida, pardo escuro: a ferrugem,
correspondente à fase grafítica do processo e assegurando
boa resistência à corrosão.
A corrosão do ferro fundido pela atmosfera depende, portanto, da
umidade e do teor em gás sulfuroso. Até mesmo em atmosferas
muito poluídas, a corrosão é muitas vezes inferior a 0,13 mm/ano, o que equivale uma perda de massa muito pequena.
Torna-se notável quando a umidade ultrapassa 70% (entre 25 e 150
micrômetros por ano, conforme se encontre numa atmosfera rural ou
industrial carregada de dióxido de enxofre, ou numa atmosfera marinha
carregada de maresia).
Essa boa resistência à corrosão provém do
fato que os produtos de corrosão que subsistem na superfície
do ferro fundido exposto desempenham um papel protetor. Por outro lado, estudos
sobre a corrosão atmosférica demonstraram que a velocidade
da corrosão diminuía com o passar do tempo, tendendo para
um valor constante após dez anos de exposição.
Antes de concluir este
parágrafo sobre a corrosão atmosférica,
devemos levar em conta o impacto corrosivo das chuvas ácidas cujo
grau de nocividade sobre os vegetais já foi medido.
.
corrosão pela fuligem
Pode ser considerada
insignificante para o caso das peças artísticas
em ferro fundido. Aplicável apenas para objetos tais como placas de chaminés
ou caldeiras e aparelhos de aquecimento varridos pelos gazes.
. corrosão pela água
Uma tubulação de água em ferro fundido foi instalada
no castelo de Versailles em 1664. Aliás, foram as fundições
da Haute-Marne que produziram e forneceram boa parte da tubulação.
Ela ainda se encontra em operação, tendo sido substituída
muito parcialmente. Após a formação de uma camada
protetora na tubulação (carbonato), a água permite
ao ferro fundido não revestido prestar excelentes serviços.
Em compensação, as águas contendo gás carbônico
em solução, efluentes ácidos e cloretos tendem a ser corrosivas
o bastante para justificar a aplicação de
um revestimento interno (betume ou cimento, por exemplo). Assim, a resistência
do ferro fundido à corrosão da água é
boa, contanto que haja imersão. O arejamento tende a acelerar a
corrosão. Ou, mais precisamente, a alternância de imersão
e arejamento.
. Corrosão pelos solos
A corrosão pelos solos é um fenômeno complexo.
A natureza e a porosidade do solo, sua drenagem, os constituintes dissolvidos
nas águas de infiltração são diferentes fatores
que influenciam a duração da vida do ferro fundido nos solos.
Em 1968,
existiam nos Estados Unidos 130 empresas de distribuição
de água ou de gás, cujas redes de distribuição,
em ferro fundido, operavam há mais de um século. Cerca de 90% dessas
tubulações tinham sido instaladas sem nenhum revestimento especial. Uma pesquisa fez ressaltar que menos de 2%
dessas tubulações
tinham sofrido danos importantes em sua parte externa. A resistência à
corrosão do ferro fundido cinzento nos solos é, portanto,
especialmente admirável. Também nesse caso, a espessura do metal constitui
um fator essencial.
. Corrosão pelos ácidos
O ferro fundido não aliado resiste mal aos ácidos minerais,
em concentração diluída ou média. A presença
de ar ou de outros agentes oxidantes acelera o ritmo da corrosão.
A corrosão pelos ácidos orgânicos presentes nos alcatrões
de hulha é geralmente lenta.
. Corrosão pelos álcalis
A resistência à corrosão do ferro fundido em soluções
alcalinas é, de um modo geral, boa. O metal não é
corroído de modo sensível pelas soluções alcalinas
diluídas, até mesmo em temperaturas elevadas.
. Corrosão pelas soluções de sais
O ferro fundido pode ser utilizado, sem corrosão excessiva,
para manutenção de numerosos sais ou soluções
salinas. Os sais que se hidrolisam para formar uma solução
alcalina, como os cianuretos, silicatos, carbonatos e sulfetos, têm
ação corrosiva relativamente lenta. No caso dos sais que
se hidrolisam formando uma solução ácida, a corrosão
é muito mais importante, particularmente quando os sais são
oxidantes ou as soluções arejadas.
. Corrosão pelos compostos orgânicos e compostos sulfurados
O ferro fundido é usado com frequência para a manutenção
dos álcoois metílico, etílico, butílico e amílico,
bem como da glicerina. As soluções de álcool e água,
na presença do ar, podem às vezes provocar uma ligeira corrosão.
IV-2-c - Corrosão eletroquímica ou galvânica
- Definição da galvanoplastia
A galvanoplastia é a operação que consiste em
depositar eletroliticamente numa superfície condutora uma camada
de metal (ouro, prata, cobre, níquel, cromo, etc). Para tanto, o corpo a ser recoberto é imerso num eletrólito
(corpo submetido à eletrólise), constituído por um
sal do metal a ser depositado e diferentes agentes. O metal a ser recoberto
é disposto em catodo. O anodo pode ser, tanto da mesma natureza que
o metal depositado, quanto inerte em relação ao eletrólito.
Um metal pode ser anodo ou catodo na medida em que seu potencial for
superior ou inferior ao do outro metal.
A operação pode ser feita a quente por imersão
num banho do metal derretido, ou a frio por depósito eletrolítico.
Tem por finalidade proteger o ferro fundido da oxidação
por recobrimento ou dar à estátua o aspecto do bronze.
A galvanoplastia é praticada na França desde o início
do século XIX. Nos catálogos das peças artísticas
em ferro fundido, as estátuas são oferecidas brutas ou bronzeadas.
Em seu tratado "De la fonderie", de 1847, Guettier cita os chafarizes da
praça Concorde, cujo revestimento de bronze não sobreviveu
ao inverno rigoroso de 1840! Sessenta anos mais tarde, para a chegada do
czar da Rússia, Alexandre III, à Exposição
Universal de 1900, os chafarizes e as colunas rostrais serão recobertos
por folhas de cobre que provocarão um fenômeno eletrolítico
cujas consequências são, hoje, irremediáveis. Com
efeito, quando dois metais de natureza diferente encontram-se na presença
de um eletrólito, é formado um elemento de pilha em função
das polaridades distintas; um dos metais se destrói enquanto
o outro permanece inalterado.
- Fenômenos de corrosão eletrolítica
A corrosão surge pelo contato de metais,
cujo potencial elétrico
varia, com um reagente, ou por carência de homogeneidade do próprio
metal. Dessa forma, são criadas localmente pilhas galvânicas. O metal
com valor potencial mais fraco é corroído prioritariamente,
protegendo assim o segundo metal. Quando juntamos o cobre ou o bronze - integrantes
da categoria
dos metais mais nobres, ou mais catódicos - ao ferro fundido - da categoria
dos menos nobres ou mais anódicos -, será este último que sofrerá
a corrosão.
Podemos também observar fenômenos eletrolíticos
entre o ferro fundido e o aço ou o ferro doce. Assim, na face
interna ou traseira das grandes estátuas ou dos chafarizes montados,
deveremos observar atentamente os pontos de montagem geralmente feitos por
rebitagem. Não é raro constatar uma corrosão
eletrolítica que pode provocar até mesmo a perfuração.
Em 1847, a soldagem das peças
era feita por meio de cobre
amarelo misturado a bórax. As duas partes a serem montadas tendo
sido previamente limadas e saturadas de sal amoníaco dissolvido.
É também possível, portanto, encontrar corrosão
eletrolítica nas soldas; essa corrosão na maioria das vezes
será descoberta somente após a decapagem.
IV-2-d - Corrosão bioquímica
Esse tipo de corrosão
tem origem na ação de microorganismos
favorecidos pelo meio. Três tipos de microorganismos foram estudados:
as ferrobactérias, as bactérias sulfatoredutoras e as sulfobactérias.
As ferrobactérias retiram a energia necessária
ao seu metabolismo pela transformação dos sais ferrosos em sais férricos.
Não há dúvidas de que enzimas secretados por essas bactérias favorecem a oxidação do
ferro. São encontradas com muita frequência nas canalizações.
As bactérias
sulfato-redutoras - como o vibrio desulfuricans - sendo anaeróbias,
podem ser encontradas abaixo das camadas de ferrugem,
em contato com o metal.
Quanto às sulfobactérias, elas
metabolizam o enxofre.
Podemos citar ainda a galionela
ferruginea, que ataca o ferro e provoca o surgimento de bolhas e tubérculos
em sua superfície.
A importância dos fatores bacterianos nos fenômenos de corrosão
tendo sido constatada apenas recentemente, ninguém duvida hoje que degradações importantes, até mesmo
com materiais de alta resistência, sejam devidas, em parte, à
ação dos microorganismos.
Esse tipo de corrosão
atacando essencialmente o ferro fundido
enterrado ou que veicula matérias orgânicas, é altamente
provável que ela não afete, ou pouco afete, as peças
artísticas.
IV-2-e - Corrosão sob
tinta
Julgamos importante dedicar um parágrafo à corrosão
sob tinta. Este é, certamente, um dos casos encontrados com mais
frequência e no qual o restaurador deparar-se-á com vários
tipos de corrosão - química e eletroquímica, mais
especialmente.
Buscaremos inspiração nos trabalhos de Henri
Leidheiser,
cujas pesquisas sobre a corrosão do metal pintado são do
maior interesse.
Leidheiser preconiza que a corrosão dos metais depende de três
fatores:
1/ A natureza do metal suporte
2/ As características e a natureza da interface metal-revestimento.
3/ A natureza do revestimento
O restaurador Stéphane Pennec acrescenta:
4/ O modo de aplicação.
Este último engloba os parâmetros humanos inerentes à
aplicação, a saber: qualidade da limpeza, prazos entre a
preparação do metal e seu recobrimento, índice de umidade da
superfície, etc... Tais parâmetros são, com frequência,
negligenciados visto que raramente notificados nas observações
em escala real ou idealizados nos testes de laboratório.
A proteção através de revestimento orgânico
envolve dois mecanismos:
- o revestimento serve de barreira contra os reagentes, a água,
o oxigênio, os ions,
- o revestimento serve de reservatório de inibidores, auxiliando
o metal a resistir aos ataques.
Podemos
concluir daí que, quanto mais espesso for o revestimento, melhor
ele protegerá o metal. Podemos também destacar que a qualidade
da proteção do metal é proporcional à longevidade
do revestimento (resistência às alterações mecânicas
e térmicas, químicas e fotoquímicas).
Leidheiser classificou em 6 diferentes tipos os problemas de corrosão
sob revestimento orgânico:
1/ Formação de bolhas
2/ Surgimento rápido da ferrugem (esse fenômeno
pode ocorrer quando uma tinta látex é aplicada sobre um suporte de
ferro decapado)
3/ Flash rusting (fenômeno análogo àquele que
acontece quando aplicamos uma tinta em fase aquosa sobre ferro)
4/ Corrosão anódica do metal suporte (mais especialmente
sobre alumínio e, às vezes, sobre ferroso quando este é
artificialmente colocado em anodo por uma corrente imposta)
5/ Corrosão filiforme (tipo de corrosão anódica
que se apresenta na forma de filamentos de propagação da
corrosão)
6/ Corrosão catódica do suporte (separação
do revestimento quando o metal suporte é artificialmente colocado
em catodo).
Veremos a seguir como
podemos lutar contra esses diferentes tipos de corrosão.
IV-3 - DESGASTE E DESORDENS MECÂNICAS
Caso
as peças artísticas em ferro fundido não sejam submetidas a nenhum movimento ou fricção, não
é possível falar em desgaste. Como já dissemos, as perdas de metal com o correr
do tempo, uniformes ou localizadas, são devidas à corrosão.
Entretanto,
convém examinar com atenção os pontos sensíveis, que
correspondem à junção das montagens.
IV-3-a - As peças montadas
Certas estátuas têm elementos montados - braços,
vestes, atributos - reunidos por encaixe ou rebitamento. O peso desses
elementos montados, as vibrações às quais a estátua é
submetida em ambiente urbano, a dilatação do metal
sob temperatura elevada, irão provocar uma ligeira desolidarização
dos elementos entre si, permitindo infiltrações com estagnações
de água e de elementos poluentes químicos ou orgânicos.
Convém considerar os danos causados pelas aves, principalmente os
pombos, onipresentes nas cidades.
Em se tratando de chafarizes, os elementos montados são
muito numerosos e submetidos à ação alternada da água
e do ar, sem falar da poluição.
IV-3-b - As junções
A intercessão das partes montadas é, na maioria das vezes,
protegida por uma junção: folha de chumbo ou mástique.
Embora a folha de chumbo resista bem ao tempo, seu leve descolamento pode ser
às vezes constatado. Os mástiques também perdem
sua elasticidade, e portanto sua aderência, ou então desaparecem.
Em quaisquer casos, as infiltrações fazem seu trabalho de
corrosão sem que seus efeitos sejam observáveis.
IV-3-c - Os rebites
A resistência dos rebites de montagem, colocados na face interna
das peças artísticas em ferro fundido, também deverá
ser verificada. Caso sejam em ferro doce ou aço e a estanquidade
não estiver mais assegurada no interior da estátua ou do
chafariz, a corrosão atmosférica atacará o metal.
O ferro e o aço corroendo-se mais rapidamente que o ferro fundido,
as montagens irão fragilizar-se, e até mesmo deteriorar-se
rapidamente fora de vista. O efeito de pilha galvânica também
foi observado entre o ferro fundido suporte e o ferro ou aço dos
rebites e parafusos.
Julgamos importante ressaltar o estado sanitário no interior
das estátuas. Essa face oculta será, aliás, matéria
de tratamentos apropriados que citaremos mais adiante.
IV-4 - OS ACIDENTES
Os acidentes podem ser:
- Fissuras ou trincas
devidas quer a defeito no material não
revelado na moldagem, quer a fadiga do metal mais especialmente solicitado
em determinados lugares.
- Fraturas devidas a golpes, quedas ou tensões impedindo o livre
movimento dos elementos montados entre si e submetidos a fenômenos
de dilatação, vibração ou compressão
das fundações.
- Na Europa, o gelo
muitas vezes provoca fraturas quando a água
estagna no interior das colunas dos chafarizes.
-
Também é possível tratar-se de imperfeições ocorridas
quando da moldagem, cujos reparos foram alterados ou desapareceram: bolhas
ou pontos, retiradas ou aportes de material deixando espaços vazios,
e outras imperfeições de superfície, reparadas quer
por preenchimento de metal nas cavidades, quer com mástique.
Além disso, os orifícios para a evacuação
do núcleo ou as hastes que mantêm o núcleo em suspensão
dentro do molde foram submetidos a solda, vedação ou montagem
cuja preservação no tempo requer uma restauração.
Elisabeth ROBERT-DEHAULT
Yves DELACHAUX
Antes de analisarmos as diferentes técnicas e fases da restauração,
seria bom fazer um diagnóstico profundo a fim de determinar
os procedimentos operatórios até o revestimento final. Com efeito,
a escolha deste determinará a escolha das fases preparatórias.
No entanto,
seria bom determinar um esquema de restauração
compatível com um certo número de critérios:
- levaremos em conta especificamente o objeto a ser restaurado,
em função de seu estado, do local de exposição
e de sua função,
- as
técnicas escolhidas
- a qualificação das empresas escolhidas para cada fase
da restauração,
- o orçamento
Por outro lado, no caso de peças artísticas tombadas,
o parecer das autoridades culturais deverá ser colhido. Este
poderá indicar até mesmo a conservação no estado
da estátua com tratamento das partes corroídas com inibidores, revestimento protetor incolor e colocação sob
abrigo - num museu, por exemplo. Stéphane Pennec estima que "tal
solução, realizável para obras maiores que podem ser
retiradas de seu contexto, parece inconcebível para estátuas
das quais grande parte de seu significado reside na sua localização geográfica".
Por motivos deontológicos, a escolha da técnica mais próxima
daquela adotada quando da pintura da peça de ferro fundido poderá ser privilegiada de modo a restituir o aspecto
original da obra.
Annick
Texier, do Laboratório de Pesquisas de Monumentos Históricos,
cita os minuciosos estudos estratigráficos realizados em amostras
de tinta da ponte Alexandre III. Estes permitiram revelar, sob vinte camadas,
as tonalidades da primeira tinta, determinando assim com precisão
as tonalidades da reforma.
Considerando a qualidade e a longevidade dos produtos atuais, bem como
o meio corrosivo onde se localiza as estátuas, a ampliação
das opções e a análise das diversas possibilidades de restauro
oferecerão novas possibilidades, tanto do ponto de vista das técnicas
como das cores. No entanto, não deveremos tomar decisões precipitadas.
Já nos deparamos com alegorias da Primavera pintadas de malva ou verde-maçã,
de extremo mau gosto, embora as tonalidades tenham sido escolhidas por
artistas.
Em
quaisquer casos, os procedimentos operatórios deverão envolver
um processo sempre reversível. Tomamos a liberdade de insistir nessa noção
fundamental de reversibilidade, que implica numa reflexão prévia
aprofundada e numa antecipação dos diferentes ataques, corrosivos
ou não, que o material deverá sofrer nos próximos
30 ou 40 anos após a data de sua restauração. O desnudamento
do metal e os reparos efetuados deverão permitir, a cada vez, um
retorno ao estado original, sem nenhuma degradação.
Os capítulos seguintes,
que tratam do restauro
das peças artísticas em ferro fundido, foram redigidos a
partir da nossa própria experiência pessoal, da experiência da fundição
de arte G.H.M. e de empresas especializadas no restauro
ou na decapagem e revestimento de metais: Fundação Coubertin
em Paris, LP3 em Semur-en-Auxois, Champenoise de Traitement de Surface
em Vitry-le-François, e também a partir das orientações e da documentação
do Centro Técnico das Indústrias de Fundição,
e de estudos descritivos muito completos sobre a restauração
da ponte Alexandre III e de diversos monumentos dentre os quais nove estátuas
do átrio do museu d'Orsay, em Paris (seis das quais foram produzidas com o mesmo ferro fundido das estátuas do Brasil).
V-1 RESTAURAÇÃO E REFORMA
V-1-a - Diagnóstico
O diagnóstico deverá considerar:
- o estado do revestimento (pintura em geral)
- a análise das camadas e da interface metal-revestimento,
- a análise da corrosão: espessura, localização,
forma: ferrugem, grafitização; tipo: corrosão química,
eletroquímica ou bioquímica,
- a análise da estrutura do metal suporte,
- a auscultação profunda dos defeitos de ajuste e das
junções,
- a verificação da face oculta ou interna da peça,
- a listagem das partes fraturadas e/ou que faltam.
V-1-b - Desmonte e transporte
Salvo para o caso dos chafarizes monumentais, é preferível
desmontar as peças de modo a poder tratá-las ao abrigo do
ar úmido e sem temer as variações climáticas.
O
ferro fundido cinzento a grafite lamelada do século passado
sendo particularmente quebradiço e os efeitos da corrosão fatores
fragilizantes, será conveniente tomar todas as precauções durante as operações
de desmonte e transporte.
V-1-c - Limpeza e decapagem
Em caso de obra montada, dissociar cada parte e tratá-la em
separado. As montagens sendo geralmente feitas por aparafusamento das bordas
inferiores, não é raro, como já dissemos, constatar
a existência de fenômenos eletrolíticos.
A finalidade da limpeza é "atingir o metal sem prejudicar a epiderme
da peça" (B. Mouton, arquiteto-chefe, inspetor geral dos monumentos
históricos).
Existem várias técnicas de limpeza e
decapagem, todas
elas requerendo estritas precauções de utilização
de forma a evitar quaisquer deteriorações nas áreas
em exibição ou abrasão das arestas. No caso da ponte
Alexandre III, em Paris, diversos testes foram realizados. A decapagem
pode ser feita por:
. remoção da camada superficial de ferrugem e poeira com
escova metálica,
. jateamento a seco com escória de alto-forno triturada a 500
microns, pressão de 4 bars. Esse abrasivo é muitas
vezes indicado em virtude de sua neutralidade em relação ao suporte
e de seu nível médio de agressividade. A técnica permite liberar
a superfície dos produtos de corrosões externas pouco aderentes
e devolver à escultura um estado de superfície mais homogêneo.
. Jato de abrasivo Jet
RazR, silicato resultante de fusão em
alta temperatura e rápido esfriamento, para ser projetado a cerca
de 6 bars na saída de bico.
. Bilhas finas de aço ou de ferro fundido hematita, cujo efeito
preenchedor e alisante elimina os riscos de pontos.
. Bilhas angulares com pressão de 3 a 7
bars, permitindo a obtenção
de uma superfície rugosa do ferro fundido, capaz de receber a metalização.
. Jato de abrasivo úmido: o
hidro-areamento é praticado
com rugosidade 20/30 e poeira de silício com pressão de 120
a 200 bars. Os controles no decorrer dos trabalhos são difíceis.
A decapagem resultante é correta, apesar de longa nas partes muito
cavadas. A formação de flor de ferrugem requer, antes da
aplicação da tinta, um tratamento de superfície. Não
há abrasão de relevos em baixa pressão.
. Decapagem por
altíssima pressão: jato d'água de 1.200
a 1.500 bars com bicos rotativos de 1,5 a 2 mm de diâmetro. Essa
técnica não proporciona resultados suficientemente satisfatórios
em virtude das limitações que impõe. O consumo d'água
é especialmente volumoso (60 l/min) e a pressão parece
ser demasiadamente elevada para peças em ferro fundido. É
impossível visualizar-se a superfície no decorrer dos trabalhos.
A logística dessa técnica é pesada.
. Processo pelo frio: o processo
Cryoclin, patenteado pela C.E.A. e
difundido por Linde Gaz Industriel, é a projeção de
bilhas de gelo de 1 mm de diâmetro formadas em nitrogênio líquido
(-180 graus C) sob pressões de 3 a 30 bars, com vazão de gelo
de 1,2 kg/min. Tal processo age por efeito térmico e muito pouco
por abrasão. A eficácia do método é moderada.
As camadas superficiais de tinta são eliminadas mas a decapagem
para o desnudamento do metal é impossível.
. Apenas
como lembrete: a projeção de bilhas de
gás carbônico gelado, um novo processo testado por Air Liquide,
e o laser, utilizado para a pedra.
As três técnicas mais utilizadas são jateamento
a seco com escória ou bilhas esféricas ou angulares. Em quaisquer casos, o preparo da superfície obtida por decapagem deve estar
conforme ao sistema escolhido (geralmente, grau de cuidados (DS) 2,5, com
rugosidade N 10 Bd).
O interior da estátua também poderá ser limpo por
jateamento leve, caso a ferrugem esteja desempenhando seu papel protetor, ou por
jateamento mais profundo, caso um revestimento seja necessário.
V-1-d -
Remoção da poeira e secagem
Após a
decapagem, a poeira do material será removida com ar
comprimido e, em seguida, com escova. Mais tarde, a peça será cuidadosamente
seca por meio de tocha a gás a uma temperatura máxima de 70 graus
C, ou por estufagem.
A
remoção da poeira e a secagem deverão ser feitos com o maior
cuidado para evitar que subsistam quaisquer vestígios de poeira
ou umidade.
V-1-e -
Nova vedação - reparo
A
nova vedação será feita por meio de mástique
poliester ou epoxi. Existem diferentes tipos desses materiais. Para as
partes que faltavam da ponte Alexandre III, optou-se por um mástique
epoxi alu, endurecendo sob temperatura ambiente e apresentando excelente
adesão em estrutura metálica. Existem também mástiques
epoxi carregados em ferro fundido.
A escolha do mástique será determinada pelo revestimento
final e pela aderência deste.
Para os reparos, diversas técnicas poderão ser
adotadas.
Ornamentos quebrados cujas partes são recuperáveis:
. Montagens reforçadas por pinos e
placas: duas partes quebradas podem ser unidas e assim mantidas por meio de
pinos ou placas fixadas na traseira ou no interior da peça através
de rebites ou parafusos. Deve-se perfurar o ferro fundido com todo cuidado
de modo a não provocar fissuras ou lascas.
. Montagem por
colagem: a montagem borda a borda ferro fundido/ferro fundido não sendo
confiável e a configuração das peças a serem
coladas nem sempre permitindo a contra-colagem de um elemento de reforço
em seu lado oposto, será conveniente prever a utilização
de pequenos pinos colados no interior de orifícios praticados na
espessura das duas peças a serem montadas. O adesivo preconizado
pertencerá à família dos epoxis de forma a assegurar
uma montagem muito sólida, durável no tempo e apta a transferir
as tensões entre os materiais montados. Essa técnica foi
adotada com êxito nos trabalhos da ponte Alexandre III, usando um adesivo epoxi
bi-componente para utilização sob temperatura ambiente.
. Solda: embora o ferro fundido não
aceite bem a solda, podemos tentar soldá-lo
com uma vara de ferro fundido, pobre em níquel, por solda a arco
elétrico. Se o material estiver muito alterado, a solda será
difícil devido à presença de óxidos contidos
no metal. Por outro lado, os ferros fundidos antigos têm elevada
taxa de fósforo. Apesar desse material favorecer a fusibilidade, ele provocará
uma ebulição no momento da solda. Por fim, o calor
liberado pela solda pode provocar fraturas ou lascas junto à parte
a ser reparada. Portanto, embora a solda seja aparentemente um remédio rápido
e pouco oneroso para os problemas de fratura, seu processo deverá
ser evitado, sendo mais aconselhável dar preferência aos mástiques epoxi ou
poliester.
Restituição das partes que faltam em ornamentos quebrados:
Várias técnicas podem ser adotadas:
. a tomada de impressão com elastômero de um elemento similar
e a moldagem de uma nova peça em ferro fundido que será reinserida
por colagem, inserção de pinos ou qualquer outro método
de montagem,
. a
sobremoldagem, isto é, a tomada de impressão diretamente
na areia do elemento similar a ser remoldado em ferro fundido.
Em ambos os
casos, deveremos levar em conta a retração
de 1% do ferro fundido, que poderá causar problemas na montagem. Ademais, a delicadeza dos detalhes e o relevo da peça correm
o risco de empobrecerem com a sobremoldagem.
. A
produção das peças que faltam em resina é
uma solução interessante, tanto por motivos técnicos
quanto financeiros. A resina pode ser posta em fôrma num molde sumário
e trabalhada mecanicamente após seu endurecimento de modo a acabar
sua geometria e seu relevo. O molde sumário colocado em contado
com o ornamento pode, além disso, permitir uma colagem direta, e
os custos da realização serão menores que uma
restituição em ferro fundido (técnica utilizada para
a ponte Alexandre III - dossiê B. Mouton).
A resina sintética deverá ser
da mesma natureza química
que os adesivos, comportando no entanto uma carga metálica que lhe
conferirá propriedades coesivas importantes bem como uma viscosidade
que permita apor-lhe formas.
O produto de carga poderá ser alumínio ou ferro fundido.
A moldagem das peças que faltam poderá ser realizada através
da pré-formação das partes diretamente sobre o ornamento
(boa qualidade de adesão sobre o ferro fundido), ocorrendo em seguida
o trabalho mecânico, realização da geometria exata.
- Juntas entre os ornamentos
A montagem dos ornamentos será realizada por meio de pinos e
grampos. Um espaço vazio será conservado entre eles em
previsão da dilatação.
O produto para junção deve poder ser pintado e possuir
propriedades elásticas, bem como boa resistência à
umidade. As resinas epoxi carregadas em polímero elástico
atendem a estes requisitos.
V-1-f - Tratamento de superfície
Inibidor de ferrugem
Existem produtos inibidores cujos princípios ativos transformam,
estabilizam e neutralizam quimicamente a ferrugem. O metal é protegido e uma tinta de acabamento é diretamente aplicável.
- Óleo de linhaça
Quando se pretende conservar o aspecto original ou oxidado da peça,
ou seja, uma tonalidade vermelho escuro, é possível
recobri-la, após decapagem parcial, com uma ou duas camadas e óleo
de linhaça acrescido de sicativo. Tal solução tem a vantagem de ser extremamente simples, econômica e inteiramente
reversível. Seus inconvenientes residem na frequência
da vigilância e da conservação. Essa solução,
que utilizamos para nosso modelos em ferro fundido expostos, foi testada
com sucesso na primeira metade do século XIX em chafarizes da praça
Concorde em Paris, após um douramento que não resistiu ao
tempo.
- Cera microcristalina
Um dos mais simples e neutros tratamentos de superfície é
sem dúvida a aplicação de uma cera microcristalina
mineral, especialmente concebida para a proteção exterior
dos metais.
A cera assegura
uma forte barreira contra o meio ambiente atmosférico,
mais especialmente a água. A neutralidade química
da cera assegura, com o passar do tempo, uma proteção de qualidade eliminando
os riscos de corrosão provocados pela acidificação
do revestimento.
Ademais, a manutenção da cera pode ser realizada mais
facilmente do que os vernizes e resinas, bastando uma simples limpeza e
uma nova aplicação a cada dois ou três anos. Os revestimentos
do tipo verniz supõem, com efeito, para sua renovação
ou manutenção, uma limpeza total da superfície por
jateamento, seguida de nova aplicação. A escultura, após
limpeza e proteção, apresenta um aspecto ligeiramente mais escuro.
A peça conservará seu aspecto corroído vermelho escuro.
A cera pode ser aplicada tanto sobre o metal desnudado como sobre o
decapado porém ainda recoberto por fina camada de óxido de ferro,
desempenhando simultaneamente um papel protetor e colorante no ferro fundido,
ou ainda sobre a tinta. A aplicação é feita em três
camadas.
Uma
controle anual deverá ser previsto e determinará
a frequência da manutenção (2 a 5 anos). Esta
consistirá numa lavagem a água sob pressão, escovação
manual com escova de nylon flexível com um tenso-ativo seguida de
enxágue a água. Após um leve secagem (tocha a
gás), aplicação de cera microcristalina, se possível
idêntica àquela de origem.
Para a restauração de
"Demeure Miroir" (Residência
Espelho), uma escultura em ferro fundido de Etienne Martin, adquirida pela
CFDT para sua sede em Paris, foi realizado um jateamento a seco com escória
triturada a 500 microns, projetada sob pressão de 4 bars. Uma leve
camada de óxido de ferro foi mantida. Após a remoção da poeira e a secagem, uma cera microcristalina mineral foi aplicada, dando-lhe um
aspecto ligeiramente mais escuro porém conservando seu aspecto corroído,
patinado, conforme o desejo do escultor.
- Metalização
A metalização consiste
na projeção a quente de um metal
sobre uma superfície previamente preparada no intuito de isolar
o ferro fundido de qualquer corrosão. Na empresa GHM, utiliza-se
o seguinte processo:
1 - limpeza e preparo da peça por projeção de bilhas
angulares (ferro fundido hematita) a seco, sob pressão de 5 a 7 bars,
2 - metalização, meia hora após o jateamento, por
projeção em fusão de uma camada de zinco+alumínio (85 /
15%) - espessura de cerca de 80 microns,
3 -
remoção da oleosidade e fosfatação por passagem num túnel
onde as peças são borrifadas com ácido e, em seguida,
com detergente de modo a suprimir os corpos graxos. A fosfatação
é realizada com o objetivo de proporcionar um melhor preparo à tinta. Cada operação
é seguida de enxágue e escorrimento (no caso de tinta
líquida, essa operação não é realizada).
4 - passivação por tratamento das peças em cromo,
5 - enxágue na água desmineralizada com troca de
ions,
6 - estufagem até
190º C. Secagem e colocação sob
temperatura para a aplicação do pó.
7 - aplicação da tinta em pó sobre as peças
aquecidas a 130 / 140º C,
8 - cozimento durante 10
min. a 180º C.
Para restaurar a deusa Marne e o chafariz de Vitry-le-François,
a empresa C.T.S., especializada em tratamentos de superfície, utilizou
a seguinte técnica:
. desnudamento por projeção de bilhas angulares a 7
bars.
A superfície é rugosa,
. secagem por estufagem,
. projeção a quente de zinco (100% ou mistura de zinco
e alumínio: 85 e 15%).
Espessura: 80/120
microns. A operação foi feita com maçarico derretendo o fio de zinco arrastado
automaticamente,
. pré-revestimento
("wash primária"), também denominada
"veda-poros" (esse revestimento, em contato com o ar, irá fabricar
sais de zinco que vedarão os poros do metal), com uma camada
epoxi de poliamidas de fosfato de zinco.
. colocação em pintura.
A metalização
tem nove anos de garantia e duração de vida de 15 a 20 anos. Esse
período pode dobrar
quando a manutenção da tinta da superfície é
realizada regularmente.
Podemos citar os postes Oppenheimer da primeira ligação
telegráfica internacional na Austrália. Tais postes em ferro
fundido, galvanizados há mais de 100 anos, foram analisados. Após
limpeza para a remoção da poeira acumulada, a espessura do zinco
revelou-se de 310 microns: o suficiente para durar pelo menos até
o ano 2100, e até mais!
- Tinta anticorrosão
Antes de qualquer processo de acabamento, o ferro fundido deve receber
um tratamento anticorrosivo aplicado sobre uma superfície lisa, decapada, desempoeirada e completamente seca.
Essa camada primária
deve aderir bem ao metal, constituindo um inibidor dos pontos de corrosão.
A escolha do pigmento é muito importante. Podem tratar-se de pigmentos:
. de ação básica e inibidores de corrosão
por ação passivante: zarcão de chumbo,
. assegurando uma proteção anódica, como os cromatos
de cálcio ou de zinco, os sílico-cromatos de chumbo. Os fosfatos,
como o fosfato de zinco, asseguram também uma proteção
anódica.
. metálicos, assegurando uma proteção catódica
ou galvânica, como o zinco e o chumbo. As tintas ricas em zinco vedam
os poros do metal, assegurando-lhe uma estanquidade perfeita .
"Os pigmentos de chumbo são
mais eficazes quando se trata de tinta anticorrosão", escreveu Lambert. O mecanismo de ação
desses pigmentos é complexo mas assegura uma proteção
muito completa contra os diferentes tipos de agressão. A aplicação
será feita por meio de escova ou rolo. A espessura estimada do filme
seco é de 40 microns.
. inertes, como os óxidos de ferro, grafite de estrutura lamelada
ou pós lamelados de alumínio ou de aço inox.
Em Paris, tanto para a estátuas do átrio do museu
d'Orsay,
restauradas na Fundação Coubertin, como para a obra de Fouques
"Árabe no deserto" - denominada LP3 por Stéphane Pennec -
optou-se por tintas fortemente carregadas em zarcão de chumbo. Durante
a segunda restauração, Coubertin utilizou uma tinta zarcão
parda-escura preferencialmente ao pigmento alaranjado habitualmente utilizado
para o zarcão de chumbo, a fim de que a sub-camada transpareça
o mínimo possível sobre as partes gastas pelo contato constante
dos visitantes (varanda).
Já para os elementos em ferro fundido da ponte Alexandre III,
foi preconizada uma tinta anticorrosão epoxi: uma camada sobre as
faces visíveis e três camadas sobre as partes ocultas após
a remontagem. A espessura do revestimento anticorrosivo deverá medir entre 100 e 120
microns,
pelo menos.
O chumbo sendo altamente tóxico, os fabricantes de tinta estão
se voltando cada vez mais para as tintas anticorrosão à base
de zinco.
- Revestimento interno da estátua
Caso este necessite
de proteção, faremos, após leve decapagem, uma projeção de revestimento anticorrosão.
O betume fornece excelentes resultados e aplica-se por projeção
através de pistola ou escova. Podemos também fazer uma
metalização.
- Remonte
Após a aplicação do revestimento anticorrosão,
efetuaremos o remonte dos grupos a serem montados. Os planos de junção
serão recobertos com uma folha de chumbo de 1 mm de espessura. Esse
processo, utilizado desde o século passado, visa melhorar o
contato das peças e suprimir tensões ocasionadas por uma
montagem direta. As peças serão, em seguida, aparafusadas
com peças em inox ou em aço doce de modo a evitare o efeito
pilha.
Em certos casos, será conveniente
isolar o ferro fundido de
elementos cuprinos. O isolamento será feito por meio de folhas autocolantes
de teflon, a exemplo do que ocorreu na ponte Alexandre III.
Embora nossa
pesquisa não tenha encontrado sinais de
fenômeno eletrolitíco entre o ferro fundido e o chumbo, permitimo-nos
orientar a sua opção para o teflon.
- Pintura intermediária
Essas camadas intermediárias asseguram ao revestimento uma espessura
suficiente para preencher as desigualdades de superfície. Por outro
lado, elas reforçam o poder anticorrosivo da camada primária
e favorecem a estanquidade do conjunto, não assegurada pela camada
primária, frequentemente porosa.
Sobre as partes metálicas da ponte Alexandre III, uma camada
intermediária aleogliceroftálica de 40 microns foi aplicada
de modo a reforçar os sistemas gliceroftálicos sobre o metal externo.
- Pintura de acabamento
As tintas de acabamento,
a exemplo do revestimento anticorrosão,
deverão ser escolhidas entre os produtos homologados pelo ministério
envolvido. Na França, trata-se do Ministério do Equipamento.
A homologação consta da classe HAU 1: proteção
das partes à vista sob atmosfera urbana ou industrial das obras
aéreas.
Verdadeira barreira contra os ataques da corrosão, ela deverá
ser estanque e, naturalmente, participar do aspecto estético desejado.
Além das especificidades em matéria de carga e de pigmentos,
as tintas diferem entre si pela natureza química de seus ligantes,
que podem ser termoplásticos ou termoendurecedores.
Os ligantes termoplásticos podem ser amolecidos por aquecimento
ou solubilização em solventes, ou endurecidos por resfriamento
de modo repetitivo. Os ligantes termoendurecedores, sob a ação
do calor e/ou na presença de catalisadores, adquirem uma estrutura
indeformável.
Podemos também distinguir os ligantes pelo seu modo de secagem
e por suas funções químicas (alquida, epoxídica,
acrílica, etc.).
Os ligantes termoplásticos endurecem ou secam por fusão,
seguida de solidificação de uma resina em pó ou por
evaporação de solventes (secagem ar ou estufagem forçada).
Os ligantes termoendurecedores endurecem por oxidação
(alquidos), reação química de vários componentes (epoxídicos,
poliuretanos), ou por polimerização (poliésteres,
silicones, fenoplastas).
Distinguem-se dois tipos de tinta:
- Tintas liquidas:
. preparação (epoxi)
. poliuretano, especialmente resistentes nos meios urbanos e marítimos,
para ser utilizado em acabamentos, no caso de ambiente úmido,
. glicero (tinta à base de resinas alquidas).
-
Tintas em pó:
. poliester (boa resistência aos U.V.)
. mista (80% epoxi e 20% poliester) destinada aos interiores
. epoxi (peças mecânicas e hidráulicas), seca e
endurece por reação química. Resiste bem às
agressões: poluição, corrosão, sol. Tem o menor
índice de permeabilidade.
A aplicação será feita
. a frio com tinta liquida
. a quente com pintura em pó: aplicação sobre
peças aquecidas a 130/140º , seguida de cozimento durante 10 min
a 180º.
Três camadas
são geralmente aplicadas.
Entre cada camada, poderemos executar um leve lixamento de modo a facilitar
a aderência da camada seguinte.
Cada camada deverá ter uma coloração ligeiramente
diferente. Isto para a comodidade do operário, que assim poderá
verificar a homogeneidade e a uniformidade de seu trabalho. Por outro lado, por
meio de fotos, o cliente poderá verificar a quantidade
de camadas aplicadas.
As vantagens
e desvantagens da pintura projetada a quente são:
duração de vida mais longa porém com alterações
por placas. A restauração pede decapagem completa. As tintas
tradicionais têm duração de vida menor porém
autorizam os retoques ou camadas suplementares sem o tratamento de fundo.
- Revestimento de bronze, cobre ou ouro
Caso
se pretenda recobrir com bronze ou cobre a estátua restaurada
e no intuito de impedir os riscos de corrosão eletrolítica,
um processo foi aperfeiçoado, consistindo em metalizar a zinco a
estátua desnudada. O cobre ou o bronze será projetado por
aplicação a quente. A espessura do revestimento será
então de 500 a 1000 microns.
Não evocaremos aqui a douração, que pode ser feita
através de dois processos. Ela aplica-se essencialmente sobre bronze,
como para os quatro grupos pégasus, ou cavalos alados, da ponte
Alexandre III, fundidos pelas fundições artísticas
de Sommevoire e Val d'Osne em 1900. Aparentemente,
as obras exportadas para
a América do Norte e América Latina não foram beneficiadas
com este tratamento.
- Verniz ou cera
Um verniz final poderá ser aplicado. Será conveniente
que ofereça boa resistência aos raios ultravioletas. Os vernizes são
encontrados na mesma
gama que as tintas:
. em glicero ou resinas alquidas,
. em poliuretano
. em epoxi e poliéster.
A cera microcristalina poderá também ser utilizada na
pátina final.
- Repouso
A
ser feito com cuidado de modo a evitar qualquer
risco de quebra ou alteração do revestimento. As peças
poderão ser colocadas sobre calços de forma a assegurar uma
ventilação no interior da estátua.
V-2 - MANUTENÇAO, PREVENÇAO
A escolha da restauração, desde a decapagem até
o revestimento final, constitui a melhor prevenção. Com efeito,
cada técnica e cada produto foram selecionados com a finalidade de barrar os ataques
corrosivos e os efeitos nocivos do sol nas pinturas e vernizes.
Os tratamentos básicos preconizados são: a lixiviação
a água sob pressão, o escovamento com um produto tensoativo,
o enxágue, seguido de secagem e da eventual renovação
da aplicação de uma camada protetora: cera microcristalina,
tinta, verniz.
Conforme o tipo de revestimento e sua duração de vida,
a operação deverá ser feita:
. a cada 2 a 5 anos, para as ceras
microcristalinas,
. a cada 3 a 5 anos, para as tintas tradicionais,
. a cada 10 anos, para as tintas aplicadas a quente,
. a cada 15 anos, caso tenha havido metalização.
A restauração constituindo um momento
complexo na vida
da obra em ferro fundido, tanto em função de seu custo quanto
pelos riscos corridos por ocasião do desmonte, transporte e desnudamento
do metal, convém elaborar um histórico preventivo e curativo,
que poderá ser registrado sob a forma de uma ficha na qual as informações
abaixo estarão indicadas:
Designação da obra de arte em ferro fundido
- localização
- nome do escultor e do fundidor
- dimensões, peso
- data de instalação
- características do material
- data da restauração
- meios utilizados e características da restauração,
- tipo de revestimento,
- frequência e tipo de controle,
- técnicas de manutenção preconizadas,
- calendário
- próximo vencimento.
Em
quaisquer casos, será conveniente solicitar o parecer de pessoas
ligadas à arte de modo a poder optar pela melhor solução.
As pesquisas fazem evoluir os produtos muito rapidamente. Além do
progresso, dos modos ou da prolongação do tempo de vida dos
revestimentos, nunca deveremos perder de vista a noção
de REVERSIBILIDADE, primeiro parâmetro a ser levado em consideração.
Elisabeth ROBERT-DEHAULT
Yvers DELACHAUX
Laurent MÉTIVIER
Quadro I - DETERMINAÇÃO DAS CAMADAS SUCESSIVAS DE TINTAS
NUM SISTEMA
|
CAMADA PRIMÁRIA REATIVA
Fina camada aplicada diretamente numa base metálica destinada apenas a
assegurar a aderência das camadas seguintes |
CAMADA PRIMÁRIA
Camada de verniz ou de tinta sobre uma base não absorvente |
CAMADA DE REFORÇO
(facultativo)
Camada aplicada numa camada primária de composição idêntica ou muito
próxima |
CAMADAS INTERMEDIÁRIAS
Camadas de verniz ou de tinta aplicadas numa camada primária ou de
impressão ou, eventualmente, numa camada de reforço e apta para receber
quer uma nova camada intermediária, quer uma camada de acabamento, de
revestimento, de superfície |
CAMADA DE REVESTIMENTO
(facultativo)
Camada de acabamento de característica decorativa marcante |
SUB-CAMADA DE ACABAMENTO
Camada realizada por meio da mesma tinta que a camada de acabamento |
CAMADAS DE ACABAMENTO
Camadas terminais de um sistema de tintas em contato com o meio externo |
|
1 - Composição de uma tinta
Quadro
2 - OS PIGMENTOS ANTi-CORROSÃO
Quadro recapitulativo em função dos campos de utilização
R
= recomendado
*
= utilização possível
Tipos |
Pigmentos |
Ambiente
rural ou urbano |
Ambiente
marítimo |
Ambiente
industrial |
Aplicações
Especiais |
Observações |
I |
Pigmentos plúmbeos:
- sílico-cromato básico de chumbo
- zarcão de chumbo
- pó de chumbo |
* |
* |
R |
|
Eficazes na anticorrosão. Tóxicos
|
II |
Cromato de chumbo
+ óxido de chumbo |
* |
* |
* |
PPR |
Utilizado nos acabamentos. Tóxico. |
III |
Ortoplumbato de cálcio |
* |
* |
* |
Superfícies galvanizadas novas |
|
IV |
Zinco metálico + óxido de zinco |
R |
R |
Desaconselhado
quando não
protegido |
|
Utilizados em pH compreendidos entre
6,5 e 10 |
V |
Cromato de zinco + óxido de zinco |
R |
* |
Desaconselhado
quando não
protegido |
|
Uma boa preparação de superfície é necessária (tóxico) |
VI |
Tetrahidroxicromato de zinco |
* |
* |
* |
PPR |
Acomoda-se sobre suportes sumariamente apropriados. Soldagem e recorte possíveis |
VII |
Ortofosfato de zinco |
R |
R |
R |
|
Ação inibidora limitada, geralmente associado a outros pigmentos, fosfato de zinco, óxido de zinco |
VIII |
Fosfato de cromo |
* |
R |
* |
PPR a 1 componente |
O pó de alumínio é sensível aos ácidos, pigmentos extremamente reativos. |
IX |
Óxido de ferro micáceo |
* |
* |
* |
|
|
X |
Pó de aço inoxidável
Pó de alumínio |
* |
* |
R |
Ambientes ácidos. Alta temperatura |
|
|